São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reavaliando a inflação

LUÍS NASSIF

Uma das grandes inovações do pensamento econômico brasileiro foram as análises a respeito do papel da inflação na manutenção do dinamismo da economia. Os primeiros estudos foram desenvolvidos por Ignácio Rangel, brilhante economista do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), morto recentemente.
No fim de semana passado, Celso Furtado, outro dos pilares do pensamento econômico brasileiro, voltou a bater no tema.
À luz da recuperação de temas como cidadania e controle do Estado, no entanto, é necessário reavaliar esta questão.
Ao longo do século, a estrutura de Estado pairou sobre a nação como um grande preceptor, por vezes estimulando o desenvolvimento mas, em momentos de crise, matando a competição e a inovação, através do controle político do crédito estatal (do Banco do Brasil e, mais tarde, do BNDES), de mecanismos de comércio exterior (como a Cexim e a Cacex) e instrumentos de política econômica, como o câmbio.
Sem uma estrutura político-institucional moderna, em lugar de produzir reações a crise promovia a paralisia e a irracionalidade na definição dos gastos públicos.
Sem a inflação, a crise aumentaria a estratificação econômica e política. A inflação promove a eugenia. Cria movimentos profundos de transferência de riquezas que beneficiam os grupos mais ágeis e modernos, em prejuízo dos dinossauros sustentados pelo sistema de benesses oficiais, e do conjunto da população, resolvendo por vias tortas a disfunção institucional do Estado.
Completado o ciclo, mesmo amparados pelo Estado, os grupos tradicionais gradativamente perdem importância, permitindo a renovação econômica e política, que vai sustentar novo ciclo de desenvolvimento.
Sob este prisma, não há como não deixar de reconhecer a importância histórica da inflação para o Brasil arcaico. Mas não se pode extrapolar para o desenho de país moderno que se pretende.
Mesmo permitindo a renovação, a inflação é a excrescência, o desequilíbrio inevitável, ante a impossibilidade de se obter por vias civilizadas o controle do Estado.
Continuar aceitando-a como um remédio significa abrir mão de qualquer veleidade de enquadrar e modernizar o Estado. É a consagração da impotência, do subdesenvolvimento, a rendição da cidadania.
A luta é outra, muito mais saudável, moderna e patriótica, e consiste em resolver as causas –não em enaltecer os desequilíbrios.
Psicultura e eco-xiitas
A coluna recebe fac símile do ministro das Minas e Energia, Alexis Stepanenko, a propósito de artigo sobre o professor Aluizio Pimenta e a questão da psicultura.
"Como em vários outros assuntos, na questão da psicultura o Aluizio está absolutamente certo", diz Stepanenko. Na proposta de reforma administrativa encaminhada pelo governo Itamar, previa-se a criação de uma Secretaria de Psicultura e Aquacultura, já que o Brasil dispõe de 25% das águas fluviais do mundo. A proposta foi derrubada pelos "eco-xiitas".
Agora, Stepanenko informa ter exposto o tema no Consea, para d. Mauro Morelli e Betinho, procurando convencê-los da importância do tema para a erradicação da fome, da mesma maneira que ocorreu na China.
Termina com Aluizio Pimenta: "Ele não é apenas construtor de país, mas de civilização humanitária".

Texto Anterior: Preços de alimentos básicos diminuem ritmo de alta em maio
Próximo Texto: Venda de veículos no varejo bate novo recorde em maio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.