São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Livro resgata trabalhos das mulheres

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de quase cinco anos de pesquisas, Naomi Rosenblum, 69, lançará em setembro o livro “The History of Women in Photography” (A História da Mulher na Fotografia).
A autora é considerada uma das principais historiadoras dos EUA. Seu livro “The History of Photography” (A História da Fotografia) vendeu mais de cem mil exemplares em 1986.
Sua nova publicação analisa a participação da mulher no desenvolvimento da arte e da técnica fotográficas.
Naomi esteve em São Paulo, em maio, na Semana Internacional de Fotografia, promovida pelo Núcleo de Amigos da Fotografia (NaFoto) e concedeu uma entrevista à Folha.

Folha - A sra. acha que escrever um livro sobre as mulheres fotógrafas é uma atitude feminista?
Naomi Rosenblum - Não me agrada separar homens e mulheres, mas tive que escrever sobre as fotógrafas, para mostrar que, em diferentes épocas, elas tiveram pensamentos divergentes dos homens em relação à fotografia.
Folha - Então, o livro nasceu dessa idéia?
Naomi - Enquanto eu escrevia “A História da Fotografia”, entre 1980 e 1985, percebi que eram poucas as mulheres citadas, em torno de 60, mas acreditava que existiam mais.
Acreditava também que deveriam ter atuado ao lado dos homens, como retratistas, por exemplo. Então, decidi recuperar o trabalho de cada uma delas.
Folha - De que países elas vêm?
Naomi - Estão presentes as inglesas, as latino-americanas, as européias e até as chinesas. Também há fotógrafas brasileiras atuais, como Nair Benedicto e Cláudia Andujar.
Folha - Em que época as mulheres começaram a fotografar?
Naomi - O livro comeá por volta de 1840, com Anna Atkins, a primeira mulher a usar a fotografia em um projeto científico, mas sem utilizar a câmera.
Atkins fez estudos sobre algas e as colocou sobre papel fotográfico, sensibilizando-o sob à luz solar. Em 1860, Lady Filmer e Lady Hawarden faziam fotocolagens e registravam a família.
Folha - As fotógrafas possuíam estúdio e comercializavam seus trabalhos?
Naomi - Sim. Em 1898, Gertrudes Kaseber tinha um estúdio na 5.ª avenida, em Nova York, e cobrava altos preços por seus trabalhos. “The Manger” (A Madona) é a sua obra mais conhecida.
Geralmente as mulheres fotografavam dentro das casas e, para as famílias, eram mais simpáticas que os homens, que trabalhavam em estúdios.
Folha - A sra. encontrou fotógrafas estranhas ou que produziram trabalhos inovadores ou arrojados?
Naomi - Julia Margaret Cameron, famosa por seus retratos entre os anos 70 e 90, teve uma fase em que ela vestia as pessoas como personagens da bíblia. Não era exatamente estranho, mas irreal e arrojado para a época.
Folha - Em suas pesquisas, existem mulheres que registram as guerras?
Naomi - Sim, a partir da Guerra Civil Espanhola. Gerda Taro, de origem alemã, foi assassinada durante uma das guerrilhas.
Margaret Bourke-White esteve na Segunda Guerra e fotografou os soldados alemães na invasão da Rússia, em 1940, e também as manobras militares alemãs na África.
Folha - Além da sra., algum outro historiador se preocupou em escrever sobre as fotógrafas?
Naomi - Em 1976, foi lançado “The Woman’s Eye” (O Olho da Mulher), de Anne Tucker. Na época, foi apresentada uma exposição em San Francisco.
Mas não se trata de um livro histórico, assemelhando-se mais a um tipo de catálogo.
Folha - Podemos considerar que sua publicação é a primeira de cunho histórico?
Naomi - Acredito que sim. São nove capítulos, incluindo os trabalhos recentes das chinesas. Delas, existem registros do Exército Vermelho invadindo o Vietnã, em 1930.

Livro: The History of Women in Photography
Autora: Naomi Rosenblum
Quanto: U$60
Onde encomendar: Livraria Freebook (r. da Consolação, 1.924, tel. (011/256-0577)

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