São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O ator Mel Gibson revela seu lado amadurecido

BRUNA LOMBARDI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entrevistado: Mel Gibson
Quando: amanhã, às 22h30, e sábado, às 13h30
Emissora: Manchete

O ator Mel Gibson está 'cotado' nos EUA. O filme "Maverick", em que atua ao lado de Joodie Foster, é um dos grandes sucessos do verão americano. Mas isso não é pretexto para ser amado por seu público, cativo.
Alguns o reconhecem o policial suicida de "Máquina Mortífera", ou em papel mais românticos, como no filme "Eternamente Jovem". Na entrevista abaixo, ele cementa sua primeira experiência na direção e fala sobre sua imagem de símbolo sexual.

Pergunta - Quando você faz um personagem há uma identificação?
Resposta - Isso de você tornar-se uma outra pessoa quando atua é um mito. Eu não sou Mad Max ou Brett Maverick, nenhum desses homens fictícios. Mas você só tem você mesmo para mostrar, ninguém mais.
O que você mostra só vem de você mesmo. Pode ser uma coisa que você tem lá no fundo e que não lhe serve pra nada, mas está lá. Então todos os personagens fazem parte da gente.
Pergunta - Você fez alguns tipos violentos. Você é violento?
Resposta - Eu posso ser. Já fui quando eu era mais moço. Mas acho que muita gente é assim. Muitos caras não sabem se expressar, não sabem como resolver um problema, e então acabam arrumando briga. É uma questão de tempo. Até você se descobrir e acabar gostando de ser quem você é, você faz muita besteira.
Pergunta - Você se refere a uma época na sua vida em que você bebia muito?
Resposta - É. Eu fui criado assim. Na Austrália, aos 15 anos, isso é normal. Era divertido, eu gostava. Ainda acho divertido, mas é perigoso. Você pode bancar o bobo e acabar dançando pelado em cima da mesa. Depois você não lembra de nada.
Não faço mais isso. São coisas que você acha que precisa, mas acaba vendo que fazem parte de um erro. Quando você é jovem, você não se aceita. Beber é apenas um derivado disso. Você estava apenas procurando algo em seu interior. É parte do processo de amadurecimento.
Pergunta - Você parou de trabalhar durante quase um ano. Por quê?
Resposta - Para me concentrar no futuro e no passado. Às vezes você tem que fazer um balanço. Eu andava agitado, com pressa e me perguntei por que estava com tanta pressa. Muita gente se preocupa com o que não tem e então se apressa e não pára pra ver aquilo que tem. Tirei um ano para refletir, reavaliar tudo que passei e planejar um novo rumo.
Pergunta - E você resolveu partir para direção no filme "O Homem Sem Rosto", onde também participa como ator. Por que o diretor Mel Gibson deformou o rosto do ator Mel Gibson? Você foi considerado o homem mais sexy do mundo. Você não gosta disso?
Resposta - Quanto ao filme, fiquei fascinado pela história e nem me preocupei com a minha aparência. Na verdade atores adoram cicatrizes e maquiagens. Quanto ao ser sexy, isso é bobagem.
Vem dessas pesquisas bobas feitas nas Bermudas, sei lá. Eles perguntam pra dez pessoas, duas dizem isso. É bobagem.
Pergunta - Mas você disse que tem um pouco de medo delas...
Resposta - Claro. Tenho que ter. Elas são muito espertas, astutas. Se você é inteligente, você tem que ter medo de mulher.
Pergunta - Como assim? Que há de tão terrível?
Resposta - Não sei. E é isso que me assusta. Elas vêm de um lugar totalmente diferente, que eu não entendo, nunca vou entender. Embora sejam misteriosas e atraentes, é preciso ter cuidado com elas.
Pergunta - Você é casado há muitos anos, tem seis filhos. Você se acha um bom pai?
Resposta - Ainda estou aprendendo. Se você tem cabeça e vê que é responsável por pequenos seres humanos e vai soltá-los no mundo, você tem que prepará-los para a jornada deles.
Pergunta - Com uma família tão grande, você já se sentiu só?
Resposta - Já me senti muito só e foi interessante. Na minha primeira visita ao Japão, foi algo incomum.
Eu não conhecia a Ásia e todos falavam uma língua diferente. Eram milhões deles à minha volta. Eu não me encaixava. Era como estar em Marte, eu me senti muito só... Todos os meus sentidos eram agredidos por novos estímulos culturais.
Pergunta - O desconhecido o assusta?
Resposta - Assusta a qualquer um.
Pergunta - Os aventureiros gostam dele. Se sentem atraídos por ele.
Resposta - Só porque ele os amedronta. Suponha que você chegou numa espaçonave, nunca tinha estado aqui antes. Desce em New York. Sabe que é uma cidade, você pode lidar com isso. Vai para um quarto de hotel, sabe que ali é pra dormir, porque está cansada. Pode lidar com isso.
Mas alguém põe um gato no quarto. Quando o vê, você sai gritando, porque não sabe o que é um gato. É o medo do desconhecido. Só depois vai ver que é só alimentá-lo, para ele parar de segui-la pelo quarto.

Texto Anterior: Folha faz debate hoje
Próximo Texto: Entendimento vem com disciplina e fé
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.