São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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MIT cria robô com aparência humana

ROGER LEWIN
DA "NEW SCIENTIST"

Cog tem braços, corpo e olhar atento, mas não é homem nem mulher. "Nós deliberadamente fizemos Cog assexuado", diz Lynn Stein, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos EUA.
Cog, em inglês, pode significar dente de engrenagem. O robô é chamado de Cog, de cognição (percepção), mas também porque é um dente de engrenagem no trabalho diário, segundo Stein.
É um tipo muito especial de robô, cria de Rodney Brooks, pesquisador de inteligência artificial no MIT. Brooks ganhou fama fazendo minúsculos robôs que se movem como insetos.
Cog vai ter mais que a mobilidade e a habilidade que todo bom robô deve apresentar. Ele também vai ser inteligente.
Isso, pelo menos, é o que esperam os pesquisadores envolvidos no projeto Humanóide.
Nenhuma outra equipe tentou tão seriamente produzir robôs com alta capacidade de percepção e habilidade de manipulação. O que faz isso possível agora é o surgimento de uma nova e poderosa forma de computação, chamada de processamento paralelo. Outro fator é a facilidade que se tem para ligar computadores.
"O projeto é uma combinação de engenharia e ciência", diz o pesquisador Brooks. "A tarefa da engenharia é construir um robô que possa operar efetivamente. O trabalho científico é entender a percepção humana."
Se Cog se tornar inteligente, como Stein e Brooks querem, ele será assim devido a sua percepção do mundo, e não porque foi equipado com um "cérebro eletrônico".
Cog deverá saber das coisas como uma criança faz –aprendendo sobre o mundo.
O robô deverá testar teorias sobre a percepção humana. Se seu cérebro funcionando por camadas, com estrutura distribuída, falhar ao gerar comportamento inteligente, deve demonstrar que essas teorias sobre a inteligência humana estão erradas.
O robôs em forma de insetos desenvolvidos por Brooks têm sistema nervoso artificial em camadas ligadas em rede que produzem comportamento.
Ao fim de cinco anos, caso Cog tenha comportamento comparável ao de um humano com dois anos de idade, o projeto terá sido mais do que um sucesso, afirma Stein.
É esperado que o robô, como uma criança de dois anos, comece a reconhecer a face das pessoas.
"Eu não sei se essa habilidade vai surgir sozinha ou se teremos que formá-la", diz Stein. "Isso é importante. Quero que Cog saiba quem nós somos, ou pelo menos, que eu sou a mesma pessoa que era ontem."
Crianças com essa idade têm consciência de si mesmas. Brooks admite não saber se Cog vai ter consciência ou se vai ser inteligente. "Se as pessoas que interagem com o robô o acharem inteligente por causa do que ele faz, então ele é inteligente. Se parecer consciente, provavelmente será."
Pode parecer estranho pensar em máquina dotada de consciência, mas muitos vêem isso como inteiramente plausível. "Humanos são máquinas e somos conscientes", afirma Daniel Dennet, filósofo da Universidade de Tufts.
Outros acreditam que Cog, ou máquinas semelhantes, nunca experimentará algo parecido com a consciência humana. "A maneira como percebemos o mundo é resultado de acidentes históricos, não de projeto", diz Nicholas Humphrey, psicólogo de Cambridge. "A qualidade da experiência humana é baseada na história de nossos ancestrais. A não ser que se repita aquela história evolucionária na construção de um cérebro artificial, não se vai reproduzir a qualidade da experiência humana."
A percepção de Cog, se tal fenômeno surgir, terá uma qualidade que vai refletir sua estrutura cognitiva. Os pesquisadores do MIT estão desenvolvendo o processamento paralelo que vai determinar o sucesso ou fracasso de Cog.
Diferentemente do processamento serial convencional, que se destina a responder a um problema específico e tratável, o processamento paralelo dá a si mesmo o tipo de avaliação contínua do mundo que deve sustentar o processo humano de aprendizagem.
"Nosso robô humanóide estará inserido em um mundo sobre o qual tem muito pouco controle", dizem Stein e Brooks. "Vai haver a presença de pessoas, se movendo a sua volta, modificando o ambiente do humanóide, respondendo a suas ações e gerando elas mesmas comportamentos espontâneos."
"A tarefa do humanóide vai ser interagir com esses fatores imprevisíveis de maneira coerente."
Aparência
Cog está sendo feito o mais parecido possível com seres humanos para poder interagir com eles. Vai ter olhos –duas minicâmeras, uma para visão central e outra para periférica–, braços, pescoço, cabeça e mãos sensíveis a toque e a calor.
O robô deverá ser capaz de coordenar o movimento de seu corpo e da cabeça para focalizar objetos, e também vai ouvir.

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