São Paulo, quinta-feira, 9 de junho de 1994
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Só resta torcer por Raí

ALBERTO HELENA JR.

ALBERTO HELENA JR
Mesmo aqui em San Diego, na manhã do jogo contra Honduras, Raí é o centro dos comentários. E a pergunta que rolava era simplesmente esta: o fato de Parreira promover o tal revezamento com a faixa de capitão da equipe seria um sinal claro de que Raí estaria deixando o time titular?
Parreira, no lobby do hotel, foi incisivo: ao contrário, esse revezamento visa, isso sim, a aliviar a carga psicológica sobre o jogador, neste delicado momento em que ele busca sua recuperação plena, técnica e fisicamente.
"Pra você ter uma idéia –dizia o técnico–, até carta já mandaram pra cá perguntando se Raí é que vai levantar a taça na final. Isso acaba pesando demais para um jogador que está se esforçando para chegar à sua melhor forma."
Antes mesmo de embarcarmos para San Diego, na véspera, o preparador físico Moraci Sant'Anna explicava para uma atenta rodinha de jornalistas, que o futebol de Raí depende muito de seu condicionamento físico. E lembrava que até mesmo no São Paulo, antes de ser submetido a um treinamento adequado, ele não conseguia render, tecnicamente, o que rendeu naqueles dois anos de esplendor, de 91 a 93.
Mas o próprio Moraci, em Florianópolis, antes do jogo contra a Islândia, dissera-me que o maior problema de Raí era psicológico. Com o que, por sinal, concordou o próprio jogador, numa entrevista exclusiva que me concedeu depois de um treino na Universidade de Santa Clara.
Somando-se tudo, a minha avaliação é que Raí ainda não conseguiu resgatar seu melhor futebol, parte por razões físicas, parte por insondáveis mistérios da cuca. De qualquer forma, trata-se de um jogador diferenciado –já provou isso. Logo, neste deserto de talentos que é o nosso meio-campo, vale a pena investir na sua reabilitação.
O que, porém, me assusta é a possibilidade de não podermos ter aquele Raí do São Paulo bicampeão do mundo em campo nesta Copa. Ou melhor: me assusta mais o desdobramento disso.
Pois Parreira insiste em que o substituto eventual de Raí deverá ser ou Mazinho ou Paulo Sérgio. Mazinho tem técnica, mas nem de longe saberia cumprir a tripla função destinada a Raí: defender, armar e atacar. Defender e armar, sim, mas atacar não. Não é do seu perfil futebolístico. Já Paulo Sérgio carece de técnica suficiente. É veloz e combativo, tão-somente.
(A bem da verdade, foi um equívoco sua convocação). Então, quem? Dos que estão aqui, o jogador que melhor poderia cumprir o papel destinado a Raí, a meu ver, seria Viola. É um meia de origem, combativo, habilidoso o suficiente para vir buscar jogo aqui atrás e tem o faro de artilheiro, com uma característica própria do titular e escassa nesta seleção: é bom de cabeça na área inimiga.
Numa segunda hipótese, Cafu, que mais ou menos, exerceu essa função no São Paulo de Telê, antes de regressar à lateral-direita. Pelo menos tem mais vigor físico para chegar lá na frente que Mazinho e mais habilidade com a bola do que Paulo Sérgio.
São duas hipóteses que, porém, não veremos aplicadas na prática, pois Parreira, inexplicavelmente, as descarta desde o início. Infelizmente. Assim, só nos resta trocer para a pronta recuperação de Raí.

Um furinho: o América de Calli está de olho em Ricardo Rocha, que é dono de seu passe. O negócio pode ser fechado nos próximos dias. Outros alvos americanos: Válber, do São Paulo, Djalminha e Adilson, do Guarani, e o zagueiro Ricardo, do Palmeiras.

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