São Paulo, quinta-feira, 9 de junho de 1994
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Violonista espanhol é destaque em festival

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Angel Romero, 48, é um dos grandes violonistas em atividade.
Espanhol de Málaga, é filho de Celedonio Romero e irmão de Pepe e Celín, todos empenhados no repertório do violão clássico.
Foi à família Romero que Joaquín Rodrigo dedicou o "Concierto Madrigal".
Angel Romero será um dos participantes da 25ª edição do Festival de Inverno de Campos do Jordão, que vai acontecer de 2 a 24 de julho.
Ele virá ao Brasil patrocinado pelo Projeto Carlton-Souza Cruz.
A empresa também patrocina a participação, no festival, do violoncelista Antônio Meneses, do pianista Nelson Freire e do clarinetista alemão Wolftang Meyer.
Angel Romero foi o solista de uma das melhores gravações do "Concerto de Aranjuez", de Rodrigo, com a Sinfônica de Londres, dirigida por André Previn.
Tem-se apresentado com as orquestras de Nova York, Cleveland, Royal Philharmonic (Londres) e Concertebouw (Amsterdã).
Abaixo, Eis os principais trechos de sua entrevista à Folha, realizada na última terça-feira, por telefone, de San Diego, na Califórnia.

Folha - Qual é a principal diferença entre o violão clássico, hoje, e nos anos 40, quando o instrumento reconquistou sua nobreza com Andrés Segovia?
Angel Romero - Estamos vivendo o mesmo processo que Segovia impulsionou, mas de uma maneira diferenciada.
O violão era considerado pelos contemporâneos dele como um instrumento "leve", como uma espécie de "hors d'oeuvre", e não como um prato principal.
Agora, assumimos com maior desenvoltura o lado pesado, turbulento, verdadeiramente solista do instrumento.
Há cerca de 50 anos, a prioridade era outra: precisava-se tornar o violão mais compreensível e mais apetitoso para os critérios que na época orientavam a escuta da música clássica.
Folha - Isso ocorria também com peças do século 18 escritas especialmente para o violão?
Romero - Exatamente. Privilegiava-se peças curtas ou resumia-se as peças que eram mais longas.
As pessoas não concebiam um longo concerto em que o violão pudesse atuar, o tempo todo, como solista.
Estamos hoje mais predispostos a devolver ao violão a "grandeur" que caracterizava o instrumento urante o século 18.
Folha - Vivemos hoje a aceitação plena do som amplificado. Será que microfones e amplificadores não correm o risco de dar ao violão um poder sonoro que em realidade ele não tem?
Romero - Há nisso também um perigo.
Eu, quanto a mim, sou tão tradicional quanto Segovia. Recuso-me a trabalhar com microfones durante minhas exibições em público, como no Royal Festival Hall, em Londres.
Outros colegas violonistas, como John Williams, preferem, ao contrário, ter o som amplificado em grandes salas.
Folha - Mas será que uma opção como a sua só funcionaria para quem possui um estilo barulhento de execução?
Romero - O som que eu produzo é muito forte, intenso. Mas também gosto de manter a clareza dos sons encadeados.
O violão não é um instrumento como o órgão, a tuba, a trompeta. Ele tem uma "finesse" que não sobrevive aos filtros do amplificador.
Folha - Mas quando se trata de execuções em estúdio, em sessões de gravação?
Romero - Eu participei de uma sessão de gravação ainda ontem à noite.
Mantive meu hábito de não deixar que o meu violão caísse para um volume sonoro inferior ao de minhas execuções num teatro.
Folha - O sr. está gravando com o flautista James Galway e com o conjunto de sopro Canadian Brass. Do que se trata?
Romero - É um CD que deve ser lançado no Natal deste ano e que está sendo preparado por todos os músicos contratados exclusivos da RCA.
Eu escolhi, para essa gravação, uma canção de Natal catalã.
Folha - O sr. já gravou muitas peças compostas para violão (Isaac Albénis, Enrique Granados, etc.).
Como o sr. vê a prática das transcrições de peças originalmente feitas para outros instrumentos?
Romero - Aceito, desde que haja fidelidade ao espírito da música. Muitas das peças de De Falla, Bach, ou Scarlatti foram inspiradas em temas folclóricos originariamente executados ao violão ou alaúde. Nesse caso, as transcrições se justificam plenamente.

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