São Paulo, quinta-feira, 9 de junho de 1994
Próximo Texto | Índice

Eleição e falsificação

GUILHERME PALMEIRA

Há uma evidente conspiração –amplamente refletida no noticiário– para banalizar a campanha eleitoral. Embora não faltem queixas de candidatos que se sentem visados singularmente, não compartilho dessa teoria.
Tenho autoridade, como modesto protagonista da atual disputa e vítima acidental da intrigalhada mais fútil, para reconhecer que se trata de um comportamento generalizado. Ninguém é poupado nem privilegiado. Estamos todos sob essa chuva ácida e irresponsável.
Também me sinto suspeito para definir os padrões ideais de observação da vida e comportamento de candidatos. Acho que se trata de um reflexo dos usos e costumes da sociedade.
Mas não será esta visão realista dos fatos que me condenará ao conformismo. Talvez por temperamento, não uso a acomodação como estratégia. Assim como não pratico o carreirismo, não aceito a redução das disputas eleitorais ao deboche da pequena intriga.
Proponho uma avaliação do desperdício do tempo e da atenção dos brasileiros verificado até agora nesse início de campanha eleitoral.
Para Fernando Henrique Cardoso, o prejuízo causado pela banalização da campanha eleitoral é terrível. É cada vez maior seu empenho em elevar a discussão. Não apenas porque ele é um aplicado intelectual, mas pelo fato de que acabou de sair do Ministério da Fazenda.
Tanto no Itamaraty como na Fazenda, qualificou-se para a Presidência da República com atuações criativas. Especialmente com o plano econômico antiinflacionário em fase de implantação, lançado com a maior transparência e sem precipitações suspeitas. FHC está com a lição na ponta da língua. Mas a audiência política nacional parece não querer ouvir demonstrações de competência.
Não venham me dizer que a imprensa é petista –que bobagem!– nem que a opinião pública prefere o escândalo. Não é porque alguns repórteres e editores são sabidamente eleitores de outros candidatos –muitos também são meus amigos e já testei sua seriedade, independentemente dos jornais e revistas em que atuam– que se privilegia a polêmica sobre se Fernando Henrique agiu "certo" ou "errado" ao montar um cavalo e usar um chapéu de vaqueiro em Delmiro Gouveia. Que banalidade!
Mas é nesse nível que a mídia parece ter convencionado colocar a campanha. Mais parece um torneio de marketing ou um jogo de disse-me-disse (aliás, tanto no caso de Delmiro Gouveia, como depois em Caruaru, deixem-me dar uma informação: Fernando Henrique encantou os sertanejos daquela confluência de Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia).
Evidentemente, os adversários querem evitar por todos os meios que Fernando Henrique exiba sua impressionante superioridade entre os candidatos desta eleição, bem como sua elegância de linguagem.
Como social-democrata –e nem por isso o PFL deixou de apoiá-lo–, as posições políticas atualizadas de Fernando Henrique desmontam preconceitos que até pouco tempo alimentavam as posições ditas esquerdistas.
Além do mais, em matéria de liberdade, democracia, civilismo, humanismo e justiça social –a começar pela distribuição de renda e justiça fiscal– ninguém está mais preparado para o debate do que Fernando Henrique.
Para mim, esse tipo de campanha que privilegia o banal em prejuízo do debate sério é um fator de falsificação do processo eleitoral. Evita que o povo saiba precisamente as intenções e planos, os reais compromissos (os verdadeiros, não os idealizados cavilosamente) que sustentam as alianças.
Por exemplo: no caso de apoio do PFL a Fernando Henrique –e que posso atestar, como seu representante na chapa– tudo se resume a um só compromisso. Queremos que ele seja como presidente o que foi como ministro. Honesto, criativo, competente, patriota. Aliás, um excelente ministro da Fazenda, como os fatos se encaminham celeremente para demonstrar.

Próximo Texto: Uma nova missão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.