São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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Mensalidade aprofunda a crise entre Itamar e equipe

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A irritação do presidente Itamar Franco não se restringe ao "xerife" dos preços, Milton Dallari, nem ao tema das mensalidades escolares.
Itamar estende suas angústias para o conjunto da equipe econômica, por achá-la branda ou acomodatícia demais na questão dos preços em geral e, em particular, dos juros.
A medida provisória das mensalidades escolares provocou um atrito entre o presidente e Dallari.
O assessor especial para preços do Ministério da Fazenda defendeu a revisão da MP que definiu as regras para conversão das mensalidades escolares para URV.
Juros é uma antiga obsessão do presidente, que ele nunca escondeu, ainda que tenha se calado nos últimos meses.
Mas a perspectiva de que os juros se mantenham elevados depois da introdução do real, como quer a equipe econômica, não está sendo digerida.
Ao chamar ontem o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, para conversar sobre o episódio Dallari, Itamar tinha a questão dos juros também na sua agenda.
Ao alvejar Dallari, de qualquer forma, o presidente abriu uma minicrise com a equipe econômica. Por mais que diga o contrário, a equipe da Fazenda compartilha o ponto de vista do "xerife" dos preços.
A Folha ouviu ontem, na Fazenda, a avaliação de que a MP das mensalidades, tal como foi editada, provoca uma "brutal deflação" nas mensalidades.
O raciocínio que Dallari expôs em público segue essa mesma lógica e foi até manifestado de maneira menos brutal.
"Equívoco"
O assessor especial disse apenas que teria havido um "equívoco" na MP.
A Fazenda admite, reservadamente, que todo o processo final de negociação da MP escapou da área técnica e ficou exclusivamente nos "trilhos da política, em seu nível mais alto", linguagem em código para dizer Itamar Franco.
Que a decisão foi política, confirma-o o ministro da Educação, Murílio Hingel.
Não apenas para agradar alunos e seus pais, mas também de olho no futuro do real.
Hingel diz que as mensalidades têm certo peso na composição dos índices inflacionários e, por isso, o governo precisava "cortar arestas" que pudessem comprometer o êxito do plano.
Desviada a questão para o plano político, a dúvida que começa a povoar a cabeça dos agentes econômicos e políticos refere-se aos passos seguintes do presidente.
Na nota de resposta a Dallari, Itamar acena com um protagonismo do Estado que não está nos planos da equipe econômica.
"O problema é que uns não querem que o governo penetre em determinadas áreas", diz trecho da nota de Itamar.
Desmoralização
Se o "uns" refere-se apenas aos empresários em geral, avessos `a intervenção estatal, a vertente política do episódio tende a esgotar-se na desmoralização pública de Dallari.
Mas se o "uns" vale também para a equipe econômica, igualmente contrária à intervenções, seja sobre preços ou sobre juros, o risco de turbulências mais fortes é grande e iminente.
O presidente está disposto a um protagonismo maior e tem prioridades diferentes da mera acomodação com o setor privado.
No campo específico da educação, por exemplo, o ministro Murílio Hingel foi claro: "O Ministério da Educação está voltado para a escola pública, gratuita e de boa qualidade".
O que equivale a dizer que os problemas que a escola particular venha a enfrentar em face da regra de conversão das mensalidades não estão na agenda do governo.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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