São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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Risco é ter errado na escolha do remédio

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT corre o risco de ter errado no principal remédio proposto para a crise do emprego no Brasil.
O texto ontem divulgado diz: "Sabemos que a questão do emprego só pode ser equacionada no contexto de uma retomada consistente do crescimento".
O crescimento econômico é condição necessária para que cresça também o emprego. Mas não está sendo condição suficiente.
Exemplo: a Argentina cresceu depois de derrubar a inflação, em 1991. Mas, ao terminar abril último, o desemprego aberto afetava 12% de sua força de trabalho, o dobro do índice de abril de 93.
No mundo inteiro, de resto, está ocorrendo esse fenômeno. Tanto assim que o mais recente relatório da OCDE, o clube dos 25 países mais industrializados do mundo, afirma: "O desemprego é, provavelmente, o fenômeno contemporâneo mais temido".
O PT parece achar que não se encontram soluções para o fenômeno apenas pela má fé ou incompetência de todos os governantes do mundo rico.
Se fosse assim, seriam todos suicidas políticos: governo atrás de governo, na Europa, perde eleições principalmente por culpa do desemprego.
Quanto aos detalhes do programa petista, fica difícil uma análise completa porque o próprio partido amarra o tema a um enorme conjunto de políticas setoriais, a maior parte a ser definida.
Exemplo: o PT se propõe a aumentar o salário mínimo, já numa primeira fase, de US$ 65 para US$ 115. Admite que isso só será factível com, entre outras coisas, o aumento das fontes de recurso da Previdência.
Mas não explicita claramente como o fará.
Essa é outra marca do programa ontem anunciado: um enorme voluntarismo, que faz muitos diagnósticos corretíssimos, mas transforma a maioria dos remédios em um catálogo de boas intenções.

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