São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Queda no interesse sexual detona a bomba do ciúme

BERNARDO DE CARVALHO

Erramos: 13/06/94

Alguns números sobre a pesquisa Datafolha sobre ciúmes estão diferentes no texto e no quadro. O erro ocorreu porque no texto só foram consideradas as respostas "muito ciúme" e no quadro foram somadas as respostas de "muito ciúmes" e "pouco ciúmes". Queda no interesse sexual detona a bomba do ciúme
Essa é a principal razão que faz uma pessoa acreditar que o parceiro tem outra
Da Reportagem LocalO ciúme pode ser despertado por várias razões e se manifestar das formas mais bizarras.
Segundo a pesquisa do Datafolha, 72% dos entrevistados passa a desconfiar de alguma coisa quando o parceiro ou perceira perde o interesse por relações sexuais, e 51% quando não recebem mais a mesma atenção.
Mas nem é preciso ir tão longe. Para espíritos "super-sentimentais" como Fábio Henrique Celino Leite, 29, o ciúme pode ser despertado por "n coisas".
Por exemplo: certa feita, uma de suas namoradas ("Era a maior gataça", diz) participou de um teatrinho no auditório da Fundação Getúlio Varga.
"Ela era uma coelhinha, com um maiozinho preto, orelhas e rabinho brancos. Era uma platéia de 600 pessoas. Começaram a gritar "gostosa!". Fiquei tão transtornado que começei a gritar da platéia: "Sua puta!" Alto. Nem sei como ela me perdoou", diz rindo.
Leite foi ainda mais longe com outra namorada quando descobriu que ela continuava saindo com o ex-namorado. Estavam numa praia no sul, à noite, a moça saiu de casa chorando após ter sido desmascarada e foi para o meio de um pasto. Leite pegou o carro, acendeu os faróis, mirou a moça e engatou a primeira.
"Ela escapou porque tinha uma cerca. Passei raspando por ela. Minhas cenas de ciúmes foram consideradas graves. Já passei por muito ridículo", diz.
Há quem disfarce melhor. Dos entrevistados pelo Datafolha, 47% procuram esconder o estado em que se encontram. "Morro de ciúmes, ma não demonstro. Não vou me rebaixar, deixar ele se achando...", diz Cassiana Lisboa, 17, que está namorando há dois meses.
As mulheres são as que parecem ter desenvolvido melhor o mecanismo do disfarce. "Sempre fui muito ciumenta mas me controlo bastante. Ele me provoca", diz Jany Brufatto, 18.
"Hoje a mulher já está contando com essa irritabilidade contida. A grande maioria é assim. Ciúme dosado faz parte. Nunca fiz cena, mas morro de vontade de fazer só para ver como é", diz Bárbara Barros, 28.
"Ë camuflado. A gente não dá a cara para bater. Na frente fica feio. O melhor é chegar em casa e roer as unhas ou tomar chá de erva cidreira", diz a empresária Fernanda Coquet, 23.
Mas as coisas nem sempre são tão comedidas. "Já bati por causa de ciúmes. Só uma vez, e porque ele me deu um tapa na frente do porteiro. Tinha que revidar. Já levei porrada umas três vezes também. Não acho que ninguém deve apanhar. Eu era bem mais jovem e possessivo", diz o corretor de valores Ronaldo Barsotti, 36, que hoje está casado e tem duas filhas.
Mas há quem goste. "Ele já teve cenas absurdas. De quebrar a porta do meu apartamento porque não queria que seu colocasse biquíni para ir à praia. Eu até gostava. Quando ele parou, achei meio chato. Ficou monótono", diz a vendedora Eliane Kubot, 21.
Kubot já ficou sem dormir à noite, já passou a noite ligando para o porteiro do prédio do namorado. "Faço mas não demostro. Homem não gosta de mulher ciumenta. Ë muita colhe de chá e homem é muito safado", diz.
"Ë doença, sabia?", diz a vendedora Andréa Bigi, 21, que já teve um cantinho cativo na loja em que trabalhava para chorar as mágoas pelo namorado.
Fábio Henrique Celino Leite sabe muito bem do mal que sofre. Mas saber não muda nada.
"Não tem outro jeito. Outro dia vi um psicólogo na televisão dizendo que ciúme mata. Tenho uma característica que é um problema: quero namorar sempre as mais bonitas. Sou machista mesmo. Quer saber? Tenho uma opinião formada sobre as mulheres. Para min, elas são submissas e sem-vergonhas", diz Leite, rindo da prória desgraça.
(Bernardo Carvalho)

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