São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Hitler e seus generais

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

As recentes comemorações dos 50 anos da invasão da França pelas tropas aliadas, na última fase da II Grande Guerra, trouxeram novamente aos jornais a figura terrível de Hitler. O sucesso das tropas inglesas e americanas nesta batalha decisiva está associado, segundo especialistas no assunto, à mania que tinha o ditador nazista de interferir na forma de lutar de seus exércitos. Contrariando a opinião de experientes generais ele manteve afastadas dos primeiros combates as terríveis unidades blindadas alemãs. Teria sido este erro que abriu as portas das praias normandas às forças aliadas. Outros erros derivados dos palpites indevidos do antigo cabo dos exércitos do Kaiser na guerra de 14-18 já tinham custado às tropas alemãs outras derrotas decisivas. Nestas ocasiões o ditador fazia sempre questão de desmoralizar publicamente os generais que contrariavam suas decisões, reafirmando assim o seu poder.
Nesta última semana o comportamento do presidente Itamar Franco esteve muito próximo deste quadro ocorrido há meio século. No meio da terrível guerra pela estabilização de nossa economia ele voltou a interferir na maneira como seus exércitos lutam contra a inflação. Questionou a condução da política monetária pela diretoria do Banco Central e mandou recados malcriados sobre o nível das taxas de juros. Pode, desta forma, imobilizar uma das principais armas com que contam as tropas do governo para evitar movimentos especulativos, de empresas e consumidores, nos primeiros meses do Real.
Da mesma forma, a intervenção do presidente e sua turma de Juiz de Fora impediu uma solução para a conversão dos aluguéis ainda em maio. A conversão feita agora vai contaminar a inflação de julho e provocar o aumento de quase 2% na variação dos índices. Também na conversão das mensalidades escolares prevaleceu a lógica de Minas sobre as decisões tomadas ao nível técnico do Ministério da Fazenda.
Ficamos todos nós que acompanhamos passo a passo a evolução do programa de estabilização com o coração na boca. Quando e onde o presidente Itamar vai atacar novamente? A lógica econômica do plano vai resistir às intervenções de Itamar?

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