São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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'Não preciso correr tanto', diz Branco

ALBERTO HELENA JR.

Lateral-esquerdo acredita que será o titular no Mundial e defende o jogo defensivo para conquistar o tetra
Branco faz o sinal de negativo depois do treino coletivo...
...enquanto o treinador Parreira acena com o sinal positivo

Quem vê Branco caminhando lentamente pelo campo da Universidade de Santa Clara não consegue imaginar o veloz ponta-esquerda que começou sua carreira no Guarani de Bagé, há 14 anos.
Logo Branco recuou para a lateral, de onde disparava em direção ao gol inimigo, com vigor, raça e uma canhota devastadora.
Numa dessas disparadas foi parar nas Laranjeiras. Em 86 e 90, foi o titular absoluto.
Carregando o peso de duas Copas fracassadas, Branco voltou à seleção com Parreira. Mais do que titular, ele era um símbolo, por sua longa experiência internacional.
De volta ao Fluminense, porém, houve um declínio brutal, visível, tanto que Parreira teve de substituí-lo por Leonardo.
Isso porque, já na primeira semana de treinamentos, Branco sucumbiu a uma forte dor lombar.
Nos exames feitos no Brasil, descobriu-se que ele tinha uma perna mais curta do que a outra.
Resultado: teve de se submeter a um tratamento hidroterápico, sob os cuidados de Moraci Sant'Anna.
Melhorou? "E muito!" –assegurava Moraci após o coletivo de sexta-feira. Era também o que Branco garantia, enquanto dava entrevista exclusiva à Folha.

Folha - Você acha que, fisicamente, houve alguma melhora desde quando chegou aos EUA?
Branco - Só pra você ter uma idéia, pela primeira vez nos últimos anos estou dentro de meu peso certo: 78 quilos. Nessa semana, perdi dois quilos.
Folha - Mas lá no campo você não deu nenhum pique.
Branco - Também, com essa lua que está fazendo, dá um tempo. Na Copa vou estar bem.
Folha - E as dores?
Branco - Nada, estou legal.
Folha - Mas legal para disputar uma Copa do Mundo, indo e vindo em velocidade?
Branco - Olha, eu não preciso correr tanto. Descobri, com o tempo, os caminhos mais curtos. Além do mais, no futebol moderno há duas maneiras de um lateral jogar. Os europeus, que atuam com líbero cobrindo, lançam os dois ao mesmo tempo ao ataque. Eles viram ponta, viram meia. Já no Brasil, não temos líbero. Logo, quando um lateral avança, o outro tem de ficar. Aqui, a principal função de um lateral é marcar. Depois subir. E isso continuo fazendo.
Folha - E os dois volantes, fórmula criada exatamente para liberar os laterais?
Branco - Eles dão proteção à zaga. O lateral tem de ficar e só ir na boa. Senão, toma um contra-ataque e adeus. Aliás, hoje, todo mundo joga lá atrás, explorando os contra-ataques. A Alemanha joga assim. E vai chegando às finais. Jogar bonito, dar espetáculo, golear, todo mundo bate palma, mas você perde. Contra nós, então, todos virão fechadinhos.
Folha - Mas se eles ficarem lá atrás, vamos precisar dos dois laterais para atacar.
Branco - Não. Nós temos de jogar o jogo da paciência. Temos de tirá-los de lá, atraí-los para o nosso campo. Aí, meu irmão, não se pode perder as chances de gol.
Folha - Então Bebeto e Romário não podem perder gols?
Branco - Não podemos errar ali atrás, dar chances a eles. Perder gol faz parte. Mas essas goleadas servem para aperfeiçoar as finalizações, dar confiança à moçada.
Folha - Por falar em confiança, você acha que o pessoal está confiante?
Branco - A turma que está aqui já se realizou profissionalmente. Só falta a taça.
Folha - E você estará lá, entre os titulares?
Branco - Acho que sim. Jogo meio tempo contra El Salvador, e, na estréia, estarei lá, sim.

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