São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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'Não querem importar valores do Ocidente'

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SÃO PAULO

Folha - Que características da cultura asiática contribuem para esse modelo?
Oliveira - O que interessa ao espírito asiático é a resolução dos problemas e não a disputa de quem tem razão. Os asiáticos não querem criar uma sociedade litigante, cheia de advogados, de juízes.
Com isso, a sociedade não se move rapidamente para alcançar seu objetivo, porque há um atrito muito grande. Os asiáticos tendem ao consenso, à negociação e tendem a não se desviar de sua rota.
Por exemplo, há uma rua estreita e dois carros. Não se trata de saber quem tem razão, quem chegou primeiro, mas sim de resolver o problema e permitir que os dois passem. A grande meta é o desenvolvimento e nada deve impedi-lo.
Folha - Há quem acredite que no final do século, o grande embate ideológico será entre a defesa dos direitos individuais, feita pelo Ocidente, e a mentalidade de se priorizar interesses do Estado, predominante no Oriente.
Oliveira - Tal dilema não existe na Ásia. Eles estão plenamente conscientes de que é um dilema ocidental. Querem fazer negócios com o Ocidente, mas não querem importar os valores do Ocidente. Eles, na verdade, têm muito medo da contaminação.
Folha - As diferenças culturais não impedem que o modelo cingapuriano seja aplicado num país como o Brasil? Por exemplo, a dedicação ao trabalho.
Oliveira - Não estou certo de que este modelo seja impraticável numa sociedade latina. Em Cingapura as pessoas trabalham cinco dias por semana, terminam o expediente às 18h, e o país funciona.
Mas na iniciativa privada há casos exemplares. Conheço um médico que trabalha 12 horas por dia, seis dias por semana. No domingo, trabalha dez horas, porque é domingo.
Precisamos ver o que é aplicável e o que não é. Acho o modelo cingapuriano de previdência social um exemplo que pode ser seguido.
Folha - Cingapura é uma democracia?
Oliveira - Sim. Tem eleições livres. Há partidos de oposição. Mas por que eles não florescem? Porque não têm nada a acrescentar.
Folha - Mas toda a imprensa é estatal.
Oliveira - É uma limitação, mas não deixa de ser uma democracia. Não há democracia em estado puro, há vários graus de democracia. (JS)

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