São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Bandeirantes bate Globo em amistoso

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA REVISTA DA FOLHA

A Globo entrou na Copa tropeçando na bola. A julgar pelo que se viu ao longo do pífio empate entre Brasil e Canadá, no domingo passado, promete ser um exercício duplamente espinhoso para o torcedor suportar, na Copa, a falta de imaginação de Parreira e as transmissões da rede número 1 do país do futebol.
Ainda sem acionar prometidas novidades técnicas, a Globo apresentou-se no primeiro amistoso da seleção com o de sempre. Nenhuma nova vinheta, nenhum novo enfoque, nenhuma nova atração.
É de se esperar que tudo isso venha, a tempo, integrar o trabalho da emissora desde os Estados Unidos (locutores esportivos adoram coisas "desde", não perdem uma chance de usar a expressão). De qualquer forma, foi perdida a oportunidade de uma largada com força total, no primeiro teste do Brasil, quando o público começou de fato a entrar em clima de Copa e a afiar o discernimento para fazer suas opções.
Não apenas pela mesmice, mas também por um grotesco esquartejamento da imagem dos jogadores que se aproximavam de uma placa publicitária da Brahma, a estréia contra o Canadá conseguiu ser tão medíocre quanto à da seleção.
Para tanto concorreu ainda –e vivamente– uma das peças mais importantes das transmissões esportivas da Globo: o insuperável Galvão Bueno. Torcedor número 1 da locução esportiva, Galvão não mudará seu estilo "vamos-lá-Brasil".
Mas bem que poderia modulá-lo e deixá-lo a uma certa distância, mínima que fosse, do ridículo. Não foi o que fez no último domingo.
Torceu como o mais desqualificado dos torcedores, a ponto de defender, de boca cheia, que os atacantes brasileiros passassem a adotar o "bico" nas finalizações –em lugar do "preciosismo" e dos toques "sutis". Como se o bico, esta forma rudimentar de chutar uma bola, pela simples evidência de sua virilidade e violência, estivesse fadado à inexorável penetração no gol adversário.
Maior concorrente da Globo, tratando-se de esportes, a Bandeirantes aprentou melhores imagens. Não torturou o espectador para cortar do vídeo a placa da cerveja Brahma e apresentou ângulos mais informativos dos lances importantes.
Estreou, porém, com um problema técnico sério: o som da transmissão fez lembrar os tempos do rádio, com direito a interrupções e voz rachada.
Se Sílvio Luiz pode ser irritante na narração –esquece-se do jogo para falar bobagens– a Bandeirantes mostrou-se mais consistente nos comentários, acionando seu time de ex-craques, com destaque para Mário Sérgio e o bom Tostão.
Ao menos na estréia da seleção fora do Brasil, ganhou a Bandeirantes. Mas muita bola ainda vai rolar.

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