São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Djura, a Tina Turner da Argélia, canta sua luta contra a opressão

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

Falar da cantora argelina Djura, que chega agora ao Brasil via Warner, sem contar um pouco de sua biografia é perda de tempo. Isso porque toda a sua produção musical está absolutamente ligada à tradição dos berbere, povos muçulmanos do Norte da África.
Sua vida é para poucas. Refutada por sua mãe, que preferia ter tido um filho homem, Djura foi criada pela avó. Transferida para a França no início dos anos 50, vê sua família crescer na miséria, na razão de um bebê por ano, até chegar a oito os seus irmãos.
O pai é preso por estar envolvido na Frente Nacional de Libertação da Argélia. É libertado em 1962. Em casa, espanca a mãe e a própria Djura, que foge de volta para a Argélia com o irmão Mohand. Lá, também é espancada e mantida prisioneira pelo irmão.
O pai a recupera e, de volta à França, a espanca e a aprisiona. Djura foge com um namorado francês e, durante um trabalho na Argélia, é atacada pelo irmão Mohand, que lhe corta os lábios com uma faca e lhe jura de morte
Djura forma seu primeiro grupo musical, o bem sucedido Mount Djurdjura. Isso revolta ainda mais a parte masculina da família, até o ponto de ela ser atacada novamente, agora pelo irmão mais novo. Isso tudo por Djura ter se recusado a viver como a tradicional mulher berbere.
Com tanta mazela em sua biografia, Djura não poderia cantar nada além de sua luta e esperança. "Arrac N Lzayer" e "Derya U Mazir" são cantos usados na guerra de libertação da Argélia e que hoje servem como cantos de vitória. Marciais e melódicos, funcionam simultaneamente como hinos de guerra e canções de ninar.
Mas a cantora não nega as infinitas qualidades musicais da tradição berbere, que está presente na percussão de "Felli D Ttlam" e no canto quase falado de "Achal Im Di Nan Sver". Canta sua revolta contra a opressão masculina na cultura berbere e contra a opressão francesa da Argélia.
Não poderia ser diferente. Djura pertence a uma das regiões mais pobres e mais ricas (musicalmente) do planeta e de onde também sairam nomes fundamentais para a música do planeta, como Oumou Sangare (Mali), Angélique Kidjo (Benim) e Hassan Hakmoun (Marrocos).

Disco: Adventures in Afropea 2 - The Best of Djur Djura - Voice of Silence
Cantora: Djur Djura
Gravadora: Luaka Bop/Warner (que importa e distribui o selo no Brasil)
Preço: 18 URVs (o CD, em média)

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