São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Zucker quer um Oscar para o besteirol

RICARDO CALIL
EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

O trio ZAZ está para a paródia cinematográfica assim como Roger Corman para o filme B.
Isso significa que, como Corman, os diretores e produtores David Zucker (Z), Jim Abrahams (A) e Jerry Zucker (Z) reinventaram um gênero e criaram uma escola que reproduz seu estilo à exaustão.
A escola ZAZ já destruiu quase todos os gêneros com suas paródias, dos filmes-catástofre ("Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu") aos de espionagem ("Top Secret").
Separados nas telas desde 1986, os irmãos Zucker e Abrahams seguiram caminhos próprios.
Enquanto Jerry dirige filmes "sérios", como "Ghost", David e Jim seguem na paródia. Abrahams dirigiu os dois "Top Gang".
David escreve e produz a série "Corra que a Polícia Vem Aí", que tem seu terceiro exemplar em cartaz no Brasil. A direção passou para as mãos de um dos alunos da escola ZAZ, Peter Segal.
Em entrevista à Folha por telefone, de Dallas (EUA), David Zucker falou sobre as influências de suas paródias e reclamou da falta de reconhecimento da crítica.
Zucker adiantou que prepara seu primeiro filme sério, uma aventura sobre a vida do explorador americano David Crocket.
Para provar que não está brincando, já convidou Tom Hanks, ganhador do último Oscar de ator, para o papel principal.

Folha - O sr. acredita que o trio ZAZ criou um novo gênero ou sub-gênero cinematográfico com suas paródias?
David Zucker - Acredito que os irmãos Marx e Woody Allen fizeram algo próximo das nossas comédias, mas acho que fundamos um novo estilo.
Folha - E quais são as principais influências de seu trabalho?
Zucker - Além dos irmãos Marx e Allen, são antigos filmes e velhas séries de TV, um pouco de Mel Brooks e muito da revista "Mad".
Folha - O sr. acha que o trio ZAZ fez escola?
Zucker -Nosso estilo influenciou vários filmes. É algo que fugiu de nosso controle. Mas quando alguém faz uma paródia sem a participação de um desses Z ou do A não costuma sair tão bom.
Folha - Como o sr. escolhe os filmes que vai parodiar?
Zucker - O melhor material para nós são os clichês, como a festa do Oscar, e filmes bastante conhecidos do público.
Folha - Mas vocês também trabalham com bons filmes, como "Traídos pelo Desejo".
Zucker - Nós trabalhamos com qualquer tipo de filme. O fundamental é ter uma certa paixão pelos filmes que você parodia.
Zucker - O sr. nunca fez filmes fora da paródia?
Zucker - Não, mas meu próximo projeto é uma aventura baseada na história David Crocket, um famoso explorador americano do século 18. Crocket era, antes de tudo, um humorista.
Folha - Você tem algum ator em mente?
Zucker - Sim. Tom Hanks. Ele vai estudar o roteiro.
Folha - Como você escolhe seus atores?
Zucker - De preferência, escolho atores sérios, sem experiência anterior em comédias. Os comediantes têm uma série de vícios. Eles costumam se achar mais engraçados do que são na verdade.
Folha - O sr. acredita que há um cinema de autor na paródia?
Zucker -Nós não estamos preocupados com isso. Quando fazemos um filme, queremos saber se as pessoas vão rir. Apesar de ser um grande comediante, Groucho Marx nunca ganhou um Oscar até a velhice.
Folha - E o sr. espera receber um Oscar algum dia?
Zucker - Algum dia não, em breve. Mas não por uma comédia. O Oscar não está amadurecido o suficiente para isso. Nossas paródias parecem estúpidas, mas são inteligentes. Nossos filmes são, de longe, mais inteligentes do que os filmes que nós parodiamos.

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