São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 1994
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Real pega indústrias estocadas

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria paulista está preparada para atender um aumento de até 20% do consumo após o real, de acordo com a Fiesp.
Essa é a principal conclusão de uma sondagem de opinião sobre o consumo na entrada da nova moeda realizada no final do mês passado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
A sondagem, divulgada ontem, mostra que 70% das grandes empresas estão com um nível de estoque de matérias-primas de "normal a muito alto".
Horácio Lafer Piva, diretor do Departamento de Pesquisas da Fiesp, disse que os resultados "tranquilizam qualquer expectativa mais pessimista" do impacto do real no consumo.
Participaram da sondagem 479 indústrias do Estado de São Paulo. 40% delas são micro e pequenas, 39% são médias e 21%, grandes empresas.
Os números revelam que 61% das empresas estão com capacidade média de produção entre 51% e 80% de sua capacidade instalada.
"Isso mostra que existe uma ociosidade que ainda pode ser transferida para o atendimento de um provável aumento do consumo", afirmou Piva.
Na hipótese de as vendas crescerem 10%, a sondagem mostra que 70% das empresas poderão aumentar sua produção nos mesmos 10% em até 20 dias, sendo que 27% delas precisariam de apenas cinco dias.
A sondagem mostra ainda que a maioria das empresas (53%) não identifica nenhum ponto de estrangulamento que dificulte o aumento imediato de sua produção.
Entre as empresas que apontaram a existência de pontos de estrangulamento para o aumento da produção, o item "juros altos" é o maior obstáculo para 56% delas.
"Os juros continuam a ser o maior inibidor da produção porque as empresas optam por trabalhar com capital de giro próprio, mostrando medo de recorrer ao mercado financeiro na entrada do real."
Juros
A Fiesp acha que o governo pode criar um ciclo recessivo e incentivar a ciranda financeira se errar na "calibragem dos juros" na entrada do real.
Piva disse que a aparente intenção da equipe econômica de começar o real com 60% de juros reais anuais causa temor na indústria.
"A nossa preocupação é que o governo, ao anunciar juros altos, cria um temor desnecessário."
Para ele, o governo deveria avaliar melhor até que ponto esse nível elevado de taxas de juros deprime a atividade produtiva e resvala no risco de criar um novo ciclo recessivo.
Piva disse que a principal tarefa do governo, agora, a menos de 15 dias da entrada do real, é criar um clima de tranquilidade.
Para Piva, uma taxa de juros reais elevada promove a ciranda financeira com as empresas buscando remuneração em títulos e não no aumento da produção.
Ele prevê também a atração de um fluxo de capital estrangeiro para especulação no mercado financeiro.
"A combinação desses dois fatores pressiona a base monetária e cria inflação", afirmou.
A Fiesp espera que os juros elevados durem "muito pouco tempo", porque, disse Piva, "a equipe econômica tem um entendimento correto da crise".

LEIA MAIS sobre juros nas págs. 2-3 e 2-4.

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