São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 1994
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Disparam os juros do crediário

MÁRCIA DE CHIARA; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os juros embutidos nas prestações do crediário em URV (Unidade Real de Valor) mais do que dobraram em apenas três meses.
Há lojas que cobram taxas de até 13% ao mês, o que equivale a 333,45% ao ano. A informação é de Marcos Cavalcante de Oliveira, diretor-adjunto de produtos de varejo do Unibanco.
"Estas taxas do crediário estão embutindo uma inflação média na nova moeda da ordem de 5% a 6%", completa Oliveira.
A Casas Bahia, por exemplo, que em março cobrava juros de 3,5% ao mês nas vendas financiadas em URV (em até nove vezes), hoje trabalha com uma taxa de 7% ao mês, afirma Michel Klein, diretor da empresa.
A incerteza, em parte, explica a alta dos juros. Não se sabe ao certo qual será o comportamento da inflação depois de julho, nem tampouco qual será a política de juros conduzida pelo Banco Central.
Na hipótese de um financiamento de nove meses com juros de 9% ao mês, existem riscos tanto para o comprador como para a loja.
O comprador sairá perdendo se o Plano Real der certo e a inflação se contentar com um patamar baixo –já que ele continuará pagando um juro de 9% ao mês.
Na outra ponta, se o plano der errado e a inflação superar os 9%, a loja, no limite, poderá enfrentar até um problema de caixa.
Segundo a Folha apurou, o comércio teve de optar entre tomar recursos emprestados no mercado financeiro a uma taxa elevada de juros ou desovar estoques para fazer caixa antes do real. Assim, foi praticamente empurrado pelas circunstâncias a apostar no sucesso do Plano Real.
Passados três meses, já há quem defenda uma nova estratégia para o crediário em URV.
O Mappin, por exemplo, estuda a possibilidade de encolher de 12 para quatro o número de prestações. "Até quatro prestações é possível trabalhar com capital de giro próprio", diz Sérgio Orciuolo, diretor de comunicações.
A Arapuã, a primeira a lançar o crediário em URV, reduziu de 12 para oito o número de prestações. A G.Aronson avalia a possibilidade de encurtar para até três. Hoje a loja trabalha com seis prestações.
A saída é aumentar os juros ou reduzir as prestações, diz Cláudio Forshaid, diretor da Opercred, do Banco Operador.
A Opercred atende os financiamentos da G.Aronson, Babuch, Casas Alegria, Besni e outras.
Para ele, a captação em URV está praticamente zerada.
A URV é um indexador com a morte pré-anunciada para 1º de julho. Neste dia, a URV vira o real, a nova moeda, e deixa de sofrer correção diária. O aplicador, portanto, tem preferido investimentos que paguem a TR (Taxa Referencial) mais juros.
Nas lojas, porém, o consumidor sempre deu preferência pelo crediário prefixado (no momento da compra o valor das prestações já é conhecido).
Há, no curto prazo, um risco de descasamento para o lojista: capta dinheiro em TR mais juros e repassa, via crédito, recursos em URV mais juros.
"O Unibanco sequer está cotando aplicações em URV por prazos maiores do que 30 dias. Não há preço que pague o risco", afirma Oliveira.
"Não há negócios em URV para 12 meses. Os juros são altos se o Plano Real der certo ou baixos se der errado", completa Eduardo Faria, do Banco Dibens.

LEIA MAIS sobre a taxa de juros na página 2-4

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