São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor usou armas e balas de verdade

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 19/06/94

O crédito correto da foto de Paulo Betti e Carla Camurati publicada nesta reportagem é "Dadá Cardoso/Folha Imagem", e não "Divulgação", como foi publicado. A foto não é de cena do filme "Lamarca", como diz a legenda, mas de ensaio da filmagem. Diretor usou armas e balas de verdade
Uma platéia de 57 mil policiais militares começa a assistir, nessa semana, a versão de 40 minutos, que a corporação montou para contestar o filme "Lamarca", de Sérgio Resende.
Para fazer o filme, os policiais levaram um ano pesquisando a vida do herói da corporação, o tenente Alberto Mendes Junior. Empregaram no elenco 40 alunos do Grupo de Operações Especiais da agremiação. Dizem que o custo foi zero, e o que sairia mais caro, as gruas de filmagem, foram cedidas pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp).
"Quisemos mostrar que o Mendes Junior é o nosso herói, e isso não quer dizer, necessariamente, que o Lamarca era um bandido", diz o diretor do filme, o capitão Rivaldo Ribeiro dos Santos.
As tomadas foram feitas em Registro e Eldorado Paulista (interior de SP), nos exatos locais em que Lamarca mantinha seu quartel-general. Detalhe: os policiais empregaram balas de verdade, e até uma fazenda teve de ser evacuada para que os fuzis e submetralhadoras matraqueassem à vontade, na cena em que o tenente PM é sequestrado por Lamarca.
O coronel Hermes Cruz diz que o filme "resgata a história para que ela faça Justiça, e que as novas gerações de policiais internalizem a imagem de um oficial que não teve medo de se oferecer aos seus algozes". Cruz acredita que o filme de Sérgio Resende mostre apenas superficialmente o momento em que o herói da PM é morto.
A PM editou a fita em super VHS, numa ilha de edição de que a corporação dispõe. "Fizemos tudo isso para registrar na memória da PM mais um episódio em que o policial militar é sacrificado no cumprimento do dever e no ideal de liberdade", define Cruz.
O filme traz narrativas em "off", relata o dia-a-dia do herói da PM, mostra seus hábitos, sua paixão por Elis Regina, e as modinhas de Dilermando Reis que ele tocava no violão.
A fita chega ao ápice da narrativa familiar quando a mãe do tenente morto, Angelina Mendes, dispara: "eu preferia ter um covarde vivo". Ao que o pai, Alberto, arremata: "me sinto orgulhoso por não terem esquecido do meu filho" -acrescentando que, caso seu filho não morresse como herói, ele "andaria com o queixo na barriga", ou seja, envergonhado.
O capitão Rivaldo Santos faz-se de repórter, vai ao local dos fatos, fala com oficiais que combateram a guerrilha de Lamarca, visita o local em que se encontrou o corpo do tenente, 128 dias depois que ele foi morto, no segundo domingo de maio de 1970.
O capitão, enxertou no vídeo versões em violão de náilon de "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin, passando por outras citações, que vão da lisergia de Jimi Hendrix ao melô setentista da dupla Lennon-Mc Cartney. Colocaram também músicas dos Incríveis, ligando o tenente à figura do rapaz que "amava os Beatles e Rolling Stones".
O filme é colorido, mas as reconstituições das cenas de guerrilha foram feitas em preto e branco, segundo a PM para reeditar o clima da época. E, na hora em que o tenente é sequestrado por Lamarca, toca a todo o volume um extrato de jazz, regado com saxofones. "Nessas cenas, os vidros das viaturas policiais foram metralhados de verdade", revela o coronel Cruz. "A morte do capitão Mendes foi uma execução covarde" (Claudio Julio Tognolli)

Texto Anterior: Cuco; Holofote
Próximo Texto: Polícia Militar conta a história pela metade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.