São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Rejeição a Lula não deve inibir investimentos

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresariado brasileiro teme a eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial, mas nem por isso se diz disposto a desviar para o exterior os seus investimentos.
Essa é a conclusão que aparece com nitidez em pesquisa do Data-folha feita junto a 393 empresários de todo o país, fechada no dia 6 passado.
Mais de três de cada quatro empresários ouvidos (exatamente 78%) acham negativa para o país a eleição de Lula.
Mas em número ainda mais substancial (83%) afirma que suas empresas continuarão investindo no Brasil.
Coerentes com a idéia de que Lula não é bom para o Brasil, os empresários preferem até Esperidião Amin (PPR) ao candidato do PT, quando, no conjunto do eleitorado, Amin é apenas o quinto colocado.
O candidato à Presidência pelo PSDB, Fernando Henrique Cardoso, é o preferido do empresariado, como era previsível, com 65% de seus votos.
Amin é o segundo, com 5%. Só depois aparece Lula (4%), seguido de Quércia (3%).
Collor e Itamar
A pesquisa acaba sendo um voto de repúdio do empresariado aos dois presidentes mais recentes, Fernando Collor e Itamar Franco.
Por mais que a grande maioria rejeite Lula, há uma fatia significativa do empresariado (36%) que acha que Lula faria um governo melhor do que o de Itamar Franco.
Quanto a Collor, a opinião do empresariado divide-se exatamente ao meio: 40% acham que Lula será pior do que Collor e 40% acreditam que será melhor.
Esse dado é significativo quando se sabe o apoio quase unãnime que Collor obteve do empresariado, durante a campanha e no início de seu governo.
Se promete manter seus investimentos mesmo com uma vitória de Lula, o empresariado é bem menos otimista no que se refere ao investimento estrangeiro.
Para 65% dos pesquisadores, as empresas de capital estrangeiro diminuirão seus investimentos no país em 95, com Lula presidente.
As razões para o repúdio a Lula são muitas e pulverizadas. Exatamente um terço dos consultados apontam o fato de Lula ser contra as privatizações e a livre iniciativa e, por extensão, favorável aos monopólios estatais e à intervenção do Estado na economia.
Falta de experiência é o motivo citado por 23%, enquanto 13% criticam o programa petista, rotulado de retrógrado, idêntica porcentagem dos que temem dificuldades com a comunidade financeira internacional.
Mesmo preferindo em massa FHC a Lula, o empresariado demonstra menor confiança na vitória de seu candidato. Só 51% acham que o ex-ministro da Fazenda se elegerá.
Ainda assim, essa é uma porcentagem superior à dos que acreditam na vitória de Lula e que são apenas 29%.
Ou seja, o grau de pessimismo eleitoral do empresariado é relativamente elevado. Afinal, só 4% votam em Lula, mas sete vezes mais pesquisados acreditam que ele vencerá.
É elevado o grau de indefinição no empresariado: 19% ficam entre a indecisão (9%) e a rejeição a todos dos candidatos (10%).
Esses números representam um empate estatístico com os 20% do conjunto do eleitorado na mesma situação, mas supõe-se que o empresariado seja, na média, mais informado do que do conjunto do eleitorado.

Leia Mais
sobre a avaliação do governo Itamar pelos empresários à pág. 1-16

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