São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cresce o apartidarismo nos jornais dos EUA

Na última eleição, a maioria não apoiou candidato

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A cada eleição presidencial nos EUA, aumenta o número de jornais diários que preferem não apoiar qualquer candidato em seus editoriais.
Em 1988, quando George Bush derrotou Michael Dukakis, e em 1992, quando Bill Clinton venceu George Bush, 62% dos diários norte-americanos mantiveram posição editorial apartidária.
Antes, a maior porcentagem de apartidarismo editorial havia sido registrada em 1980, quando Ronald Reagan bateu Jimmy Carter e 42% dos jornais dos EUA preferiram não apoiar nenhum dos dois.
A revista semanal "Editor & Publisher", órgão oficial dos jornais e revistas dos EUA, tem feito pesquisa sobre a posição eleitoral dos diários desde 1940, quando Franklin Roosevelt derrotou Wendell Willkie.
Naquela eleição, Roosevelt recebeu o apoio de 23% dos jornais, Willkie de 64% e só 13% mantiveram apartidarismo.
Depois de 1940, a porcentagem de apartidarismo editorial aumentou de maneira consistente a cada eleição.
Três dos cinco jornais de maior circulação do país –o primeiro,"The Wall Street Journal" (circulação paga de 1,8 milhão de cópias diárias), o segundo, "USA Today" (1,5 milhão), e o quarto, "The Los Angeles Times" (1,1 milhão) adotam como política editorial o apartidarismo.
Outros, como "The Miami Herald" (o 18º maior do país, com circulação de 407 mil cópias diárias), caminham nessa direção.
O publisher do "Herald", David Lawrence, explicou assim a decisão de não apoiar Clinton, Bush ou Perot em 1992: "Temos a forte impressão de que os leitores têm recebido informação suficiente para resolverem".
A tradição do jornalismo americano neste século tem sido a de apoiar candidatos em editoriais e cobrir a campanha com isenção no noticiário.
Nos últimos 20 anos, período em que a credibilidade da imprensa foi colocada sob suspeita como nunca antes pelo público, cada vez mais editores responsáveis por jornais abandonaram essa linha.
"Eu estou convencido de que os leitores acham ser arrogância da parte dos jornais tentar lhes dizer em quem votar", diz Bob Wingett, dono de três jornais no Estado de Ohio, meio-oeste do país.
Na eleição de 1992, os jornais que apoiaram Clinton tinham uma circulação paga conjunta de 17,5 milhões de cópias. Os que ficaram com Bush, 9,9 milhões e os que se mantiveram apartidários, 22,9 milhões.
O terceiro e quinto jornais de maior circulação nos EUA, "The New York Times" (1,1 milhão de cópias diárias) e "The Washington Post" (852 mil), apoiaram Clinton em 1992. O "Times" não endossou ninguém em 1988.

Texto Anterior: Pelo telefone
Próximo Texto: Dois momentos de um jornal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.