São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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A inflação (em real) de julho

LUIS CARLOS MENDONÇA DE BARROS

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O governo começou nesta semana uma verdadeira batalha de informações, preparando a opinião pública para a divulgação do primeiro índice de inflação da era do real.
Com uma população desconfiada, depois de tantas tentativas fracassadas de se acabar com a inflação, o governo pretende jogar no ataque.
Não quer dar a seus adversários, reunidos pelo combate comum ao candidato Fernando Henrique, a oportunidade de usar a confusão de índices na transição para atacar o plano de estabilização. Esta tarefa não será fácil!
Primeiro, terá que explicar os valores altos dos índices que, como o IGP-M da FGV, vão misturar a inflação em cruzeiros reais de junho com a inflação em reais de julho.
Isto acontece porque a metodologia usada no Brasil calcula a inflação como a média dos preços em um mês com a média do mês anterior.
Em outras palavras, com uma inflação igual a 47% em junho e 0% em julho, teremos um índice no mês de julho de 23,5%. Isso mesmo com os preços constantes em real.
Esse fenômeno é de conhecimento das pessoas mais próximas às questões econômicas, mas não do chamado povão. Por isso, pode representar terreno fértil para aqueles que vão atacar o plano, como a CUT.
Outro ponto importante, e mais sutil que o primeiro, é a inflação em real derivada dos aumentos de alguns preços que são reajustados com periodicidade maior do que a mensal.
O exemplo mais importante deste bloco são os aluguéis. A conversão desses contratos deveria ter sido realizada durante o período da URV, para evitar esta contaminação.
Mas a indecisão do presidente da República atrapalhou tudo. Agora, esse efeito arrasto vai gerar uma inflação indevida em julho de 2% a 3%.
Finalmente, teremos o efeito do arredondamento de alguns preços que, convertidos de URV para real, resultarem em valores quebrados. Este procedimento do comércio pode representar um aumento da ordem de 1% a 2% nos índices de julho.
Com isso, podemos ter um degrau da ordem de 5% antes de atingirmos os tão sonhados índices de 1% a 2% ao mês de inflação na nossa nova moeda.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 51, engenheiro, é diretor do Banco Matrix S/A e professor do curso de doutorado do Instituto de Economia da Unicamp.

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