São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Brasil estréia amanhã sem ritmo

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A LOS GATOS

Começa amanhã a 15ª Copa do Mundo para a seleção brasileira de futebol. O Brasil vai começar sem ritmo. Indecisões do técnico e jogadores machucados impediram que os titulares treinassem juntos duas vezes seguidas.
O time preferido do técnico Carlos Alberto Parreira não entrará em campo. Ele queria o zagueiro Ricardo Gomes na equipe. Gomes foi cortado. Teve uma distensão na coxa esquerda.
Indeciso, Parreira sinalizou com a escalação de Aldair. Mas Aldair também está mal fisicamente. Treinou separado da equipe em metade do tempo que esteve nos Estados Unidos.
O titular da defesa deve ser Márcio Santos, junto com Ricardo Rocha. Mas nada impede que durante o Mundial isso mude. Aldair, recuperado, pode entrar. Ou mesmo Ronaldão, convocado na quarta-feira para o lugar de Gomes.
A seleção desembarcou nos EUA dia 26 de maio. Nesses 25 dias, o objetivo do técnico era "adquirir ritmo".
Contraditório, Parreira esperava mais ritmo da equipe enquanto ia mudando os jogadores. Testou dez dos atletas considerados reservas em apenas três jogos.
Nas partidas amistosas, Parreira não deixou o time jogar completo durante os 90 minutos. Ao todo, 21 jogadores foram testados nos Estados Unidos.
Foram disputadas três partidas amistosas na América do Norte. Contra o Canadá (1 a 1); Honduras (8 a 2) e El Salvador (4 a 0).
São os seguintes os jogadores convocados para a reserva e que entraram logo no começo ou durante as partidas amistosas: Zetti, Cafu, Aldair, Márcio Santos, Leonardo, Mazinho, Paulo Sérgio, Muller, Viola e Ronaldo.
Dois desses jogadores passaram para a condição de titulares. Márcio Santos, por causa da contusão de Ricardo Gomes. E Leonardo, que superou o lateral-esquerdo Branco em condicionamento.
Só não foi testado nos Estados Unidos o terceiro goleiro, Gilmar.
Embora não diga publicamente, Parreira promoveu esse troca-troca de jogadores durante os amistosos para abrandar as disputas do grupo de convocados.
A escalação de um reserva em um amistoso é um prêmio de consolação para o atleta. Serve como um pagamento antecipado para que esse jogador se resigne com o banco durante o Mundial.
O caso de Zetti é exemplar. Parreira fala abertamente que Taffarel será o titular no gol. Mas pôs Zetti para jogar contra El Salvador.
Os jogadores vivem dos seus salários e dos contratos que podem fazer. Uma aparição como titular na seleção representa uma negociação mais favorável na hora de renovar o contrato.
Além de agradar os reservas, Parreira também dedicou-se a irritar o meia Raí. O técnico decidiu que o meia não serviria para a função de capitão. E fez um rodízio da função.
O já introvertido Raí ficou ainda mais calado em campo. No final, mesmo admitindo que Raí não seja o capitão ideal, Parreira resolveu confirmá-lo na função.
O objetivo do técnico era entregar a braçadeira de capitão para um jogador mais extrovertido. Deixou para decidir isso a menos de um mês do Mundial. Expôs o jogador a um massacre da mídia.
"Achei que isso aliviaria o Raí um pouco", diz o técnico sobre o episódio. Quando se refere ao meia, Parreira deixa escapar que apenas escolheu o menos pior.
Sobre Romário, Parreira nunca teve dúvidas. O problema foi a disposição do jogador para treinar. O atacante faltou a sete treinos seguidos na semana passada. Mesmo jogando contra a Rússia amanhã, pode não estar no ritmo esperado pelo técnico.
Mas Parreira não buscava apenas ritmo para seu time nos EUA. Queria tranquilidade. É o que sempre diz abertamente quando fala para jornalistas estrangeiros. "A pressão no Brasil seria insuportável", declarou na semana passada.

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