São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Camarões é um mistério para seu técnico

MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

A seleção dos Camarões que estréia hoje na Copa contra a Suécia em Los Angeles é um enigma se você tem na cabeça o time brincalhão que encantou o mundo em 90.
Nem o técnico, o francês Henri Michel, sabe ao certo como o time vai se comportar em campo.
"Todos nossos adversários são perigosos, mas o primeiro é sempre o mais assustador", disse à Folha (leia entrevista abaixo).
Camarões está no mesmo grupo do Brasil, com a Rússia e a Suécia.
O pavor da estréia tem sentido. Michel assumiu o comando do time há 5 meses e 6 dias. Seis outros treinadores foram defenestrados do cargo nos últimos quatro anos.
Todo mundo quer dar palpite no time. No final de maio, quando saiu a lista dos convocados, a população saiu às ruas de Yaoundé, a capital de Camarões, pedindo a presença de quatro jogadores.
Michel chamou dois deles.
Até o presidente da República de Camarões, Paul Biya, mete o bedelho no time. A população era contra a convocação de Roger Milla, uma das estrelas da Copa de 90, agora com 42 anos.
O presidente mandou chamá-lo, segundo a imprensa internacional.
Michel negou à Folha a versão de que convocou Milla por pressão do presidente da República.
"Ele é um caso particular. É um herói nos Camarões e um técnico de futebol não pode ignorar esse tipo de coisa."
Milla, reserva do time que estréia hoje, é um dos poucos remanescentes do time de 90, que derrotou a Argentina por 1 a 0 logo no primeiro jogo, bateu a Romênia e a Colômbia.
Chegou às quartas-de-final, acabou perdendo para a Inglaterra e ficou em sétimo lugar na Copa.
Dois dos outros remanescentes são o atacante Oman-Biyik, 29, e o goleiro Joseph-Antoine Bell, 39.
Oman-Biyik, que joga no Lens da França, foi o atacante solitário do time nos jogos das eliminatórias, num esquema tático em que o meio de campo era congestionado por cinco jogadores.
O técnico Henri Michel fez mistério quando foi perguntado pela Folha se manteria um só jogador no ataque. "Este é um problema meu", desconversa.
Michel também dribla as conversas sobre a defesa de Camarões, que tomou quatro gols nas eliminatórias jogando contra seleções como a de Suazilândia, Guiné e Zimbábue e é considerado o setor mais vulnerável do time.
"Não quero falar sobre isso. Nossa defesa é excelente", diz.
Poderia ser mais um fanfarrão, não fosse o currículo de Michel. Em 1986, ele levou a seleção francesa ao terceiro lugar na Copa do México. Era técnico daquele time que derrotou o Brasil nos pênaltis.
Dois anos antes, ele havia conduzido a seleção francesa ao título olímpico, de novo derrotando o Brasil.

Texto Anterior: Pesquisas derrubam mitos
Próximo Texto: Time venceu a campeã mundial
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.