São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Muito cuidado com o efeito Camarão

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A NOVA JERSEY

Meus amigos, meus inimigos, as rápidas expulsões nos dois primeiros jogos desta 15ª Copa do Mundo mostram que o Brasil precisa tomar bastante cuidado com o nervosismo da estréia, amanhã.
Há bastante polêmica com relação à frase do novamente presidente da Fifa João Havelange afirmando que o árbitro que não mostrar um cartão vermelho será enviado para casa no primeiro avião.
A primeira medida saiu ontem: juízes não podem mais dar entrevistas. E há técnicos, como o da Irlanda do Norte, Jack Charlton, irmão do famoso Bob da seleção inglesa, reclamando muito.
Os brasileiros têm vários motivos para se preocuparem com essas medidas. Veja-se o caso de um jogador como Raí. Não é seu estilo disputar jogadas deslealmente com os adversários.
Mas Raí tem o hábito de procurar tirar a bola do jogador do outro time justamente através do recurso do chamado carrinho. E do carrinho por trás. Um dos lances mais visado pelos juízes.
A decisão toda fica por conta da interpretação do juíz. Nadal, o zagueiro da Espanha, é reconhecido como um dos mais elegantes do mundo. Há dúvidas sobre se ele fez ou não a falta no coreano.
Não importa. Nadal foi expulso. Está fora do jogo decisivo contra a Alemanha. A Espanha precisa de um bom resultado nesta terça, em Chicago, para ainda tentar alguma coisa nesta Copa do Mundo.
Os zagueiros brasileiros não costumam economizar em entradas duras. O árbitro Lin Kee, das Ilhas Maurício, que apitará o jogo do Brasil, obteve o melhor índice na preparação feita pela Fifa.
É de se supor que esteja em sintonia fina com o rigor exigido pelos responsáveis pela arbitragem neste Mundial. Além disso, há o fator Camarões, que não pode ser deixado de lado.
Se você se lembra, na partida inaugural da Copa passada, quando Camarões surpreendeu o mundo e, principalmente, os argentinos, os jogadores africanos tumultuaram o jogo o tanto que puderam.
Deixaram os argentinos nervosos, deram entrada violentas, reclamaram muito do juíz e terminaram vitoriosos, mas com dois expulsos.
Não sei se o atual técnico francês Henri Michel conseguiu mudar alguma coisa no time, sob este aspecto. E se os outrora leões indomáveis continuam como as feras feridas da disciplina.
Parreira, que preza o preparo emocional do time, deveria reservar espaço especial sobre o tema na sua preleção de amanhã. Para não correr riscos em uma variável que, em tese, é controlável.
TAAFF-a-rell, George-JEAN-Yo, Antonio Carlos (assim mesmo), MarCEE-OH Sants (não diga o "o"), Leonardo (como da Vinci), DOON-guh, CZAR Sam-PIE-oh, Rye-EE e Zeen-yo.
Bay-BET-toe e Roe-MARR-ee-oh. É assim que os americanos estão ensinando a pronunciar o time brasileiro. Em maiúsculo, os trechos que devem ser falados mais enfaticamente.
O nosso amor vai aumentando, como dizia o velho Lupe, via Jamelão, como a torre de Babel. Ou como a bola de Babel.

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