São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Woodward faz livro de fofocas

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Bob Woodward, o jornalista que ficou célebre por ter sido um dos dois repórteres investigativos do jornal "The Washington Post" que trabalharam no caso Watergate na década de 70, lançou um novo livro esta semana.
Cada livro de Woodward, atual secretário-assistente de redação do "Post", é aguardado pelos poderosos de Washington com profundo receio.
Foi o caso do presidente Bill Clinton e sua equipe com "The Agenda" (Simon & Schuster, 352 páginas, US$ 24,00), sobre o primeiro ano do atual governo norte-americano.
Como em outros dos seus livros, Bob Woodward consegue relatar fatos que todo mundo já conhece de maneira tão sensacional que eles parecem conter alguma novidade.
Também como em seus mais recentes trabalhos, a maneira romanceada com que escreve e a transcrição entre aspas que faz de declarações não dadas a ele colocam dúvidas sobre a sua credibilidade.
Em "The Final Days", escrito ainda com seu parceiro de Watergate, Carl Bersntein (atualmente um repórter free-lance), eram reproduzidos monólogos do então presidente Richard Nixon feitos, segundo os próprios autores, sem nenhuma testemunha em madrugadas na Casa Branca, como se tivessem sido ditados para o livro.
Em "Veil: The Secret Wars of the CIA", o diretor da CIA Richard Casey, que já estava morto quando o livro saiu, também é citado extensivamente sem jamais ter sido entrevistado para o livro por Woodward.
"The Agenda" mostra um presidente Clinton permanentemente indeciso, uma primeira-dama Hillary constantemente intrusiva, um presidente do banco central dos Estados Unidos Alan Greenspan ineditamente poderoso na Casa Branca.
Também relata os assessores políticos do presidente em progressivo confronto com a equipe econômica, a relutância de Clinton em abandonar suas promessas de campanha e aumentar impostos para a classe média a fim de reduzir o déficit público.
Tudo isso era conhecido há tempos. O que dá sabor de notícia ao livro são os detalhes dos bastidores, as frases pretensamente ditas pelos poderosos, as minúcias das rivalidades.
Woodward não dá os nomes de suas fontes. Diz que todas as fitas das entrevistas feitas para escrever o livro serão colocadas à disposição do público daqui a 40 anos.
O efeito mais imediato do livro, além de aumentar bastante a conta bancária do autor e os lucros da editora, tem sido a de tornar ainda mais complicada a já difícil convivência entre alguns assessores do presidente Clinton.
"The Agenda" é um livro perfeito para cortesões: muita fofoca, escrita de maneira magistral. Mas tem pouca informação nova e pouquíssima utilidade política ou acadêmica. (Carlos Eduardo Lins da Silva)

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