São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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O patrimônio de Lula

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Raras vezes Luiz Inácio Lula da Silva sofreu ataque tão duro sobre sua honestidade –nem seus mais ferrenhos adversários à direita ousaram, até agora, acusá-lo de ganhar dinheiro irregularmente. Leonel Brizola resolveu abrir caminho. Cuidado, leitor.
Ao entregar sua declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral, Lula revelou um patrimônio de US$ 122 mil. A avaliação de sua casa: US$ 47 mil. "Não pode, é um valor muito maior", atirou Brizola. Não parou aí.
Resolveu questionar as cinco cadernetas de poupança, as contas correntes, entre outras aplicações financeiras. "De onde ele tirou esse mundo de negócios que tem ali? Tem muita conta bancária para um sindicalista." Aqui está um caso típico de manipulação eleitoral que, óbvio, só tende a crescer com a proximidade das urnas.
Com bem menos ênfase, Brizola questionou o patrimônio dos outros candidatos. Só excluiu Orestes Quércia –o mais rico de todos. Motivo: ele está atrás de uma aliança com o ex-governador de São Paulo.
Óbvio, portanto, que os ataques de Brizola são motivados não por uma questão moral, mas simplesmente eleitoral. Até porque, justo ou não, o patrimônio de Quércia tem suscitado infinitas vezes mais polêmica do que o de Lula. Aliás, um dos dirigentes do PDT, deputado Luiz Salomão, chegou a escrever um livro, apontando supostas irregularidades de Quércia na privatização da Vasp, resultando em desvio de dinheiro público.
Imagino, porém, que um candidato teria de ser extremamente idiota, caracterísica não exatamente marcante entre os políticos, para apresentar declaração com falcatruas. Mas o patrimônio dos candidatos deve ser mesmo investigado: alguém que se disponha a ser presidente não deve deixar dúvidas sobre suas fontes de renda.
PS – O esforço de Lula para atrair simpatias do empresário está longe de surtir efeito –daí, certamente, o partido estar preparando uma cartilha para os homens de negócios destinada, segundo alega, a desfazer o que considera preconceitos. Pesquisa Datafolha informa hoje: 78% dos empresários acham que a eleição de Lula é negativa para o país. Mas, nem por isso, existe histeria: 83% dizem que continuam investindo dinheiro no Brasil.

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