São Paulo, sábado, 25 de junho de 1994
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FHC de ontem seduz adversários

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

Erramos: 28/06/94

Diferentemente do que foi publicado nesta reportagem, o professor titular de Ciência Política da Unicamp Luciano Martins não é coordenador da campanha do candidato Fernando Henrique Cardoso no Rio de Janeiro.
A teoria da dependência, da qual o candidato Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi um dos principais formuladores nos anos 60, dividiu esta semana intelectuais empenhados nas campanhas tucana e de Orestes Quércia (PMDB) à Presidência.
A discussão revelou que atuais adversários de FHC ainda vêem virtudes em seu pensamento de há 30 anos. Seus aliados de hoje, ao contrário, fazem restrições.
O debate ocorreu no Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), na defesa do doutorado da economista Lídia Goldenstein, "Repensando a Dependência".
Na banca, o economista João Manuel Cardoso de Mello, orientador do trabalho e responsável pelo programa econômico de Quércia, se opôs ao sociólogo Luciano Martins, coordenador da campanha de FHC no Rio de Janeiro.
Completaram a banca os economistas Luiz Gonzaga de Mello Belluzo (parceiro de João Manuel no programa quercista) e José Roberto Mendonça de Barros, professor da USP, além do cientista político José Luís Fiori, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, simpatizante de Lula (PT).
Em sua intervenção, Luciano Martins questionou a pertinência do conceito de dependência como fio condutor para se pensar a inserção do país no quadro internacional hoje.
Sugeriu ainda que a teoria da dependência está obsoleta porque pressupõe relações entre Estados nacionais, coisa que a globalização do capitalismo vem pondo em questão.
Assim, para retomar o desenvolvimento, o país precisaria adequar-se ao movimento mais geral do capital internacional, com a consequente adoção das medidas propostas pelo FMI e pelo Bird (Banco Interamericano de Desenvolvimento) –o Consenso de Washington.
Em miúdos, trata-se de promover uma estratégia de homogeinização das economias nacionais que pressupõe três passos: 1) estabilização econômica, 2) reformas estruturais (privatizações, desregulamentação de mercados, liberalização financeira etc.) e 3) retomada dos investimentos.
Entre os presidenciáveis, FHC é o candidato mais identificado com essas teses.
Ficou para João Manuel a resposta a Martins. Mais uma vez, apareceram as semelhanças entre PT e PMDB.
Para o formulador da política econômica quercista, contra a integração internacional, devem-se fomentar políticas defensivas, em que o Estado atue contra a lógica do mercado, sem o que não há como barrar o efeito devastador do capital.
João Manuel avalia que a onda neoliberal está vivendo seus dias de agonia e será seguida de um novo ciclo de intervencionismo estatal nas economias.
Como exemplo, citou a crise mundial de 1929, cuja resposta foi a adoção de políticas de tipo keynesiana para salvar do colapso o capitalismo.
Lídia Goldenstein obteve a nota máxima. As próximas eleições, pelo visto, vão atualizar uma discussão que a academia deixou esquecida na gaveta há pelo menos 15 anos.

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