São Paulo, sábado, 25 de junho de 1994 |
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Não pudemos nos defender, dizem donos de escola
DANIEL CASTRO
Em 28 de março, no entanto, duas mães acusaram diretores e funcionários da escola de praticarem orgias sexuais com crianças. A escola acabou, foi depredada. Quase três meses depois, o inquérito policial concluiu que os acusados eram inocentes. Não havia provas nem coerência nos relatos das supostas vítimas, duas crianças de 4 anos. A seguir, trechos da entrevista concedida por Maria Aparecida e seu marido, o comerciante Icushiro Shimada, 50: Folha – O que a senhora vai fazer para voltar a trabalhar? Maria Aparecida Shimada – Não sei como começar. Tenho 44 anos e ninguém vai me dar emprego. Digamos que você é dono de escola. Você teria coragem de me dar emprego? Se fizer isso, os pais dos alunos vão te perguntar: "Como você dá emprego para uma mulher acusada de abuso sexual?" Folha – A senhora evita sair de casa, mesmo depois de ser inocentada? Maria Aparecida – Esse pesadelo não vai nos deixar nunca. Sempre haverá alguém que dirá que sou aquela que foi acusada de abuso sexual de crianças. Fomos estampados nos jornais e na TV como monstros. Folha – É possível calcular o prejuízo financeiro? Icushiro Shimada – A escola estava avaliada em janeiro em US$ 60 mil. Tivemos que pagar indenização de funcionários, multa pela rescisão de contratos e a reforma da escola, que foi depredada. Tive que vender meu carro. Folha – Qual o patrimônio de vocês hoje? Icushiro – Só temos uma copiadora e uma quitinete que compramos com muito sacrifício. Folha – Vocês pretendem pedir indenização pelos danos que sofreram? Quanto desejam? Icushiro – Com certeza queremos ser ressarcidos, mas não fazemos idéia de valores. Não existe preço que pague a honestidade. Folha – Como vocês receberam a notícia de que eram acusados de abuso contra crianças? Icushiro – Eu estava na escola. Quando abri o portão dei de cara com o delegado (Edélcio Lemos), as duas mães que fizeram a denúncia e uma equipe de TV e outra de jornal. Convidamos todos a entrar porque não tínhamos nada a esconder. Reviraram tudo e não acharam nenhuma pornografia. Folha – Mas parece que isso não foi suficiente para convencer a polícia... Maria Aparecida – Não tivemos oportunidade de nos defender. Fomos humilhados sem qualquer prova. A imprensa nos massacrou. Fomos condenados antes de sermos julgados. Texto Anterior: Homem é morto em briga de trânsito em SP Próximo Texto: Promotor acusa bicho de não pagar prêmios Índice |
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