São Paulo, sábado, 25 de junho de 1994
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Não pudemos nos defender, dizem donos de escola

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho da professora Maria Aparecida Shimada, 44, era ter sua própria escola. Em setembro de 92, ela comprou a escola infantil Base, na Aclimação, junto com a sócia Paula Alvarenga.
Em 28 de março, no entanto, duas mães acusaram diretores e funcionários da escola de praticarem orgias sexuais com crianças. A escola acabou, foi depredada.
Quase três meses depois, o inquérito policial concluiu que os acusados eram inocentes. Não havia provas nem coerência nos relatos das supostas vítimas, duas crianças de 4 anos.
A seguir, trechos da entrevista concedida por Maria Aparecida e seu marido, o comerciante Icushiro Shimada, 50:

Folha – O que a senhora vai fazer para voltar a trabalhar?
Maria Aparecida Shimada – Não sei como começar. Tenho 44 anos e ninguém vai me dar emprego. Digamos que você é dono de escola. Você teria coragem de me dar emprego? Se fizer isso, os pais dos alunos vão te perguntar: "Como você dá emprego para uma mulher acusada de abuso sexual?"
Folha – A senhora evita sair de casa, mesmo depois de ser inocentada?
Maria Aparecida – Esse pesadelo não vai nos deixar nunca. Sempre haverá alguém que dirá que sou aquela que foi acusada de abuso sexual de crianças. Fomos estampados nos jornais e na TV como monstros.
Folha – É possível calcular o prejuízo financeiro?
Icushiro Shimada – A escola estava avaliada em janeiro em US$ 60 mil. Tivemos que pagar indenização de funcionários, multa pela rescisão de contratos e a reforma da escola, que foi depredada. Tive que vender meu carro.
Folha – Qual o patrimônio de vocês hoje?
Icushiro – Só temos uma copiadora e uma quitinete que compramos com muito sacrifício.
Folha – Vocês pretendem pedir indenização pelos danos que sofreram? Quanto desejam?
Icushiro – Com certeza queremos ser ressarcidos, mas não fazemos idéia de valores. Não existe preço que pague a honestidade.
Folha – Como vocês receberam a notícia de que eram acusados de abuso contra crianças?
Icushiro – Eu estava na escola. Quando abri o portão dei de cara com o delegado (Edélcio Lemos), as duas mães que fizeram a denúncia e uma equipe de TV e outra de jornal. Convidamos todos a entrar porque não tínhamos nada a esconder. Reviraram tudo e não acharam nenhuma pornografia.
Folha – Mas parece que isso não foi suficiente para convencer a polícia...
Maria Aparecida – Não tivemos oportunidade de nos defender. Fomos humilhados sem qualquer prova. A imprensa nos massacrou. Fomos condenados antes de sermos julgados.

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