São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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URV compensará até o último reajuste

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Diplomata de carreira, o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, não deve entender as sutilezas do jogo de esconde-esconde que frequentemente separa o Banco Central das instituições privadas.
Na quinta-feira, o ministro chutou a mesa na qual o BC blefava no pôquer. O ministro disse com todas as letras que a última URV (Unidade Real de Valor), a do dia 30, será mais alta que as anteriores para "compensar os aumentos de preços dos últimos dias".
A variação acumulada no mês irá se basear no mais elevado dos três índices de inflação, no caso, o IPC-Fipe da terceira quadrissemana, estimado em 48,61% pelo departamento de economia da "Agência Dinheiro Vivo".
O Banco Central atuou na semana passada mais para confundir do que para explicar. Quando as instituições chegavam à conclusão de que todos os sinais apontavam para uma estabilidade da URV, o BC dava uma paulada superior a meio ponto percentual na projeção do indexador, como aconteceu na terça-feira.
E quando o mercado deduzia que nova correção seria inevitável, o BC não fazia nada, como na quarta-feira. O resultado desse jogo de esconde-esconde foi um crescente nervosismo, só desfeito pelas declarações do ministro Rubens Ricupero.
Mesmo corrigido por uma URV realista, o CDB (Certificado de Depósito Bancário) pós-indexado a ela não será uma boa opção de investimento. Para concorrer com o CDB-TR, o CDB-URV vendido amanhã terá de mostrar juros reais nas nuvens.
Supondo URV fechada de 48,61% em junho, a correção monetária do papel ficaria em 7,39%. Os juros, então, teriam de ser de 7,09% ao mês ou 127,41% ao ano para pagar a mesma rentabilidade prevista para o CDB-TR.
Se for negociado amanhã com juro real de 14% acima da variação da TR (Taxa Referencial), o CDB prometerá ganho bruto de 15%. Acumulará três correções baseadas em um CDI de 2% ao dia e 18 já com o CDI do real, previsto em 0,4% ao dia.
A TR do período pode ser estimada em 13,93%. Como "Dinheiro Vivo" projeta inflação de 9,92% para o mesmo período da aplicação, o seu juro real alcançaria 3,65%.
A melhor opção de curtíssimo prazo, até o real, é o overgold. Uma aplicação que renda 95% do CDI-over pagará 1,97% bruto e 1,92% depois do Imposto de Renda sobre o juro acima, da Ufir (Unidade Fiscal de Referência). Ou seja, pagará, em termos líquidos, a variação da URV.
Evite, por enquanto, os fundos de investimentos. Embora a maior parte das carteiras já esteja recheada com títulos públicos pós-fixados, com rendimento equivalente ao do over, não se conhece o impacto sobre o ganho de "micos", como os papéis indexados ao IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado).

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