São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Raios X revelam supergaláxia

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um exame de raios X do espaço revelou como surgiu uma supergaláxia com 20 vezes mais estrelas que a Via Láctea.
"Ela é 15 vezes mais brilhante em raios X do que outras galáxias", disse à Folha por telefone Trevor Ponman, da Universidade de Birmingham (Reino Unido).
Ponman publicou artigo na revista "Nature" contando como se formou a supergaláxia, de onde raios X ou de luz levam 3 bilhões de anos para chegar à Terra (atravessando 3 bilhões de anos-luz).
"Há dois tipos de galáxia: elípticas e espirais", disse o astrônomo.
Galáxias espirais, como a Via Láctea, têm forma de disco achatado girando em torno de um centro.
Galáxias elípticas, como a supergaláxia estudada, parecem grandes blocos de estrelas. São em geral maiores que as espirais.
Segundo Ponman, havia sugestões de que as elípticas se formam pela fusão de várias espirais.
Ele verificou que os raios X em excesso da supergaláxia vinham de gases quentes ao redor dela. "Nunca tínhamos visto tanto gás em volta de uma única galáxia".
Essa nuvem de gás (que se estende por cerca de 1,5 milhão de anos-luz ao redor da galáxia) tinha formato semelhante à de um grupo de galáxias espirais.
"É um indício muito forte de que a galáxia que estamos vendo já foi um grupo que se juntou para formar a maior que fica no meio", afirmou o astrônomo.
Ele compara o gás quente em volta da galáxia ao sorriso do gato Chesire, do livro "Alice no País das Maravilhas". Quando o gato some, o sorriso permanece e revela o local exato onde ele esteve.
Além do gás, Ponman diz haver grande quantidade de matéria que não emite luz em torno da supergaláxia (a misteriosa matéria escura). "Vemos seu efeito gravitacional, mas não a coisa que o provoca".
Segundo ele, várias outras galáxias elípticas devem ter se formado do mesmo modo. "Se houvesse só uma, teria sido muita sorte".
A própria Via Láctea faz parte que um grupo de galáxias que em bilhões de anos pode se fundir para formar uma supergaláxia.
Para observar a supergaláxia, a equipe de Ponman estudou emissões de raios X sem interferência da atmosfera, recolhidas pelo satélite Rosat, em órbita desde 1990.
Mas os raios X do céu trazem outras novidades. "Há pessoas que estão observando restos de explosões de estrelas", disse o britânico.
Essas estrelas explodindo, ou supernovas, parecem ocorrer apenas em galáxias espirais, como a Via Láctea, onde estrelas nascem, crescem e depois explodem.
"Acredita-se que essas explosões podem reorganizar a matéria na galáxia criando cavidades enormes, ou superbolhas", disse Donald York, da Universidade de Chicago (EUA).
A Via Láctea tem cerca de 100 mil dessas bolhas. Numa delas, pequena, fica o Sistema Solar. É a bolha local (veja ilustração).
Ela tem um raio de cerca de 300 anos-luz. É rodeada por nuvens de gases esparsos, principalmente hidrogênio, como se fossem gomos de uma bola de futebol.
"A Terra ainda está dentro da bolha", disse York. Mas daqui a uns 100 mil anos, ela pode encontrar uma das nuvens que formam a casca da bolha.
"Pode haver efeitos dramáticos no clima, com chuvas em grandes quantidades", diz o americano.

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