São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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NO CAMINHO DA ROÇA

COSETTE ALVES

Defensor ferrenho do investimento na produção agrícola, Munhoz teve "embates violentos" com a área econômica do governo quando foi ministro de Itamar Franco: "Eles não têm consciência da importância da agricultura"

O candidato do PMDB ao governo de São Paulo aprendeu cedo que política é guerra: lembra da mãe empunhando um revólver para defender a família dos inimigos do pai –então candidato derrotado à Prefeitura de Itapira (SP). Nem por isso fez da violência seu mote. Ex-ministro da Agricultura do governo Itamar Franco, José Antonio de Barros Munhoz usa de serenidade e exemplos acessíveis para defender a racionalização do setor primário da economia e condenar o desperdício da produção agrícola

Cheguei para entrevistar o deputado José Antonio de Barros Munhoz, candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB, preparada para um jogo de esconde-esconde: "Está frio... Está quente..." Aquela brincadeira que leva um tempão até acabar no "Achei!". Em geral, só depois do esconde-esconde é que a conversa começa de fato. Com muitos políticos tem sido assim: os primeiros 60 minutos são um teste de paciência.
Não foi o caso com Barros Munhoz. Ele foi pontual, o que é surpreendente; me recebeu sem pose, no escritório de Ronaldo Ferreira, filho de Roberto Ferreira, seu amigo já falecido, fundador da Bom Bril, onde teve seu primeiro emprego. De terno e gravata, se movimenta com simplicidade e elegância. Não gesticula aflitivamente.
Apesar dos cabelos brancos, tem o rosto jovem. Espontâneo e fluente, se apresenta sem armadura. Direto, cheio de vitalidade e humilde, fala com serenidade e ritmo. Seu timbre de voz é forte, mas agradável. Várias vezes me perguntei se era mesmo um político, ou um político que por ser tão hábil e bom nem parecia político. Por conta destes pensamentos secretos, percebi que eu já estava começando a criar um certo preconceito contra os políticos. E não é agradável reconhecer os próprios preconceitos. Fiquei desconcertada e por isso mesmo, contente.
Munhoz é um político que não tem ilusões sobre a política. Faz uso dela porque sabe que ela é necessária. Mas conserva sua autenticidade, sua maneira de ser. O político e candidato do agrobusiness ao governo de São Paulo não é manhoso.
Teve contato com a política muito cedo. Tinha três anos, e ainda estava no berço. Ele e o irmão, doentes, com sarampo. Seu pai tinha perdido a eleição em Itapira e sua casa foi bombardeada. Naquele tempo era comum, nas cidades do interior, jogar bombas na casa dos candidatos derrotados.
Ele lembra da mãe pegando um revólver para defender a casa e a família e lembra do pai segurando o braço da mãe para que ela não atirasse em ninguém. Esta cena o marcou muito. "Ficou marcada para que desde cedo eu entendesse as dificuldades e a luta que é a política."
Totonho, como até hoje é chamado pelos amigos, naquele momento perdeu o paraíso. Apesar da violenta experiência, e de seu pai ter perdido todo o patrimônio na política, não desanimou. Ao contrário. Munhoz, o homem, continua o caminho do pai e persegue a terra prometida. Dedica-se à vida pública, consciente dos sacrifícios que terá que fazer. Não perdeu o contato com esta história de sua infância. É daí que vem sua determinação e estímulo.
(continua)

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