São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
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Itamar entra na campanha

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Até há alguns meses, o país experimentou uma sensação única: a de ser governado por um presidente invisível. Itamar Franco havia tomado chá de sumiço. O Ministério da Fazenda teve os seus dias de Palácio do Planalto.
Enquanto Fernando Henrique ocupou a cadeira de ministro, a Fazenda governou como quis. A entrada de Rubens Ricúpero trouxe Itamar de volta. É como se o presidente houvesse se encontrado com a própria consciência. Ele parado, ar reflexivo. E sua consciência: "Governe, Itamar, governe".
Há algo de suspeito na movimentação do presidente. Ele havia sumido para ajudar um Fernando Henrique ministro. Deu-lhe inimaginável liberdade para pôr de pé o plano econômico. Ressurge agora decidido a dar uma mãozinha ao Fernando Henrique candidato.
Como peça eleitoral, falta ao Plano Real um certo apelo popular. E é aí que entra Itamar. Não um Itamar qualquer, mas um SuperItamar, defensor dos estudantes, protetor dos consumidores oprimidos, inimigo dos tubarões da especulação.
Note-se que Itamar não age sozinho. Na última quinzena, Fernando Henrique esteve três vezes em seu gabinete. O candidato visitou o presidente na última quinta-feira e no sábado, por exemplo. No mesmo sábado, Itamar reuniu alguns de seus ministros para esboçar a estratégia da guerra que se promete deflagrar contra os especuladores nesta semana.
Especuladores há aos borbotões. Que o governo precisa agir, não resta a mais remota dúvida. O que espanta é justamente a demora. Os preços dispararam quando o plano ainda boiava na cabeça de seus idealizadores. O estranho é que Itamar, homem com um temperamento de dinamite, tenha adiado tanto a explosão.
O estouro do presidente chega justo no momento em que Fernando Henrique, empacado entre os 16% e os 19% das pesquisas de opinião, precisa de um fato político que o projete para além dos 20% e dali para o segundo turno das eleições.

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