São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Cruzado aumentou consumo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Plano Cruzado, de 1986, aumentou o poder aquisitivo da população em escala sem precedentes. Somaram-se dois fatores: primeiro, os salários, depois de colocados na média, tiveram um aumento real de 8% (e de 16% para o mínimo); e, segundo, os salários ganharam com a simples redução da inflação, que ficou perto de zero.
Além disso, todos os preços estavam congelados. Os salários também estavam teoricamente congelados. Mas como a economia se aqueceu, todas as indústrias passsaram a trabalhar na capacidade máxima, com horas e turnos extras.
Com isso, a mão-de-obra se valorizou e os aumentos salariais se generalizaram.
Tais aumentos eram ganho real de poder de compra, imediato.
Resultado: aumento de demanda sem possibilidade de ser atendida pela produção local. Aumentou o consumo de remédios populares, por exemplo, para dor de cabeça e dor de barriga. Faltaram tampinhas para cerveja.
O consumo da carne de boi subiu rapidamente. Preços estavam congelados, mas os açougueiros e produtores logo perceberam que a população estava disposta a pagar muito mais do que o preço congelado. A carne sumiu nas vendas oficiais.
No câmbio negro, não faltava. Cobrava-se até cinco vezes mais que o preço de tabela. E se vendia tudo.
O governo tentou importar carne. Levou meses em concorrência, tomada de preço, ineficiências administrativas. E quando a carne chegou, o governo não conseguia distribuí-la.
A importação era muito difícil. As alíquotas eram elevadas (chegavam a até 300%) e havia produtos de importação proibida, como automóveis. (Como na carne, tinha fila, câmbio negro e ágio para compra).
E havia produtos que só o governo podia importar. Alimentos, como o leite, e o caso especial da carne.

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