São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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'Manipulação genética do tabaco é comum'

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tabaco é considerado uma planta fácil para ser manipulada e ter sua constituição genética modificada. A Philip Morris confirmou na semana passada que está tentando patentear nos EUA, desde junho de 91, metodologia que altera (para mais ou para menos) a concentração de nicotina do tabaco.
David Kessler, diretor do Food and Drugs Administration (FDA), órgão norte-americano que controla alimentos e remédios, denunciou em Washington, na semana passada, que fabricantes nos Estados Unidos estavam produzindo cigarros com o dobro do teor de nicotina para aumentar a dependência dos usuários.
Segundo Marie-Anne Van Sluys, 32, doutora em fisiologia vegetal e chefe do laboratório de botânica da USP, a manipulação genética do tabaco já se tornou rotina nos laboratórios.
"Quase tudo que se experimenta no tabaco regenera", diz a pesquisadora. Isso significa que alterações na planta, feitas em laboratório, podem se perpetuar quando o tabaco modificado começar a se reproduzir no campo.
Sluys conta que desde 1980 sabe-se de transferências de genes de bactérias para plantas. Em 1987, afirma, foi transferido para o tabaco um gene de resistência a uma larva. Com isso, a planta adquiriu maior proteção ao inseto.
A pesquisadora acredita que são necessários cinco anos, em média, para que uma transformação genética de planta possa ter aproveitamento econômico.
Um exemplo de manipulação genética bem-sucedida são os tomates consumidos nos EUA.
Lá, a engenharia genética e a mudança no DNA (molécula responsável pela transmissão das características hereditárias) do tomate permitem que a fruta seja colhida madura e mantenha sua consistência até chegar aos centros consumidores. No resto do mundo, o tomate é colhido verde e amadurece durante o transporte, o que altera seu sabor.
Clodoaldo Celentano, 54, diretor de Assuntos Corporativos e Jurídicos da Philip Morris no Brasil, afirma que o pedido de registro de patente do método tem como objetivo reduzir o teor de nicotina dos cigarros.
A quantidade atual de nicotina por cigarro é a seguinte: Galaxy, 0,8 mg; LM Lights, 0,9 mg; Dallas Suave, 1 mg; Lark, 1 mg; Marlboro, 1 mg; Dallas, 1,1 mg; Parliament, 1,1 mg; Marlboro, 1,2 mg e Benson & Hedges, 1,2 mg.
Celentano afirmou que estava esperando da matriz a informação sobre a quantidade de nicotina por cigarro, a empresa pretende diminuir caso seja concedida a patente.

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