São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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T. S. Monk guarda herança de Thelonius

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

O baterista Thelonious Sphere Monk 3º, 44, é filho do grande pianista e compositor Thelonious Monk. T.S. Monk, como prefere ser chamado, conviveu com os grandes músicos que tocavam com seu pai.
Seu primeiro professor de bateria foi Max Roach, "talvez a minha maior influência". Aos 19 anos, tocou na banda de seu pai.
Em 1991, montou seu próprio grupo de jazz, que hoje é formado por Ronnie Mathews no piano, Scott Colley no baixo, Don Sickler (o produtor dos discos de Joe Henderson, vencedor de dois prêmios Grammy) no trompete, e Bobby Porcelli e Willie Williams nos saxofones.
Estiveram em Paris para duas semanas, onde TS Monk concedeu essa entrevista exclusiva à Folha.

Folha - Como foi a sua carreira até o momento?
T.S. Monk - Cresci cercado dos melhores músicos de jazz da história, que estavam sempre em casa. Músicos como Miles Davies, Charlie Parker, John Coltrane, Max Roach, Art Blakey ou Horace Silver.
Mas essas pessoas eram muito liberais em termos de música, e então eu escutei tudo o que quis, como rock, funk, essas coisas que todo jovem gosta.
Eu só comecei a tocar com 15 anos, ou seja, tarde. Meu pai me disse que eu estava começando tarde, pois ele, por exemplo, havia começado a tocar com três anos. Isso me deu medo e me fez estudar duas vezes mais.
Quando tinha 19, comecei a tocar com meu pai, e fiquei com ele durante quatro anos. Após fiz alguns discos, cantando e tocando bateria durante dez ou 12 anos.
E então, em 1984, parei de tocar, e só voltei novamente em 1991, pois quis saber se eu seria capaz de tocar jazz. Para minha surpresa, eu vi que sou capaz.
Folha - Quais são as suas maiores influências?
Monk - Todos esses músicos, mas talvez Max Roach e Art Blakey estejam, para mim, um pouco acima dos demais. Art foi o primeiro músico que conheci, à exceção de meu pai, e Max me deu a minha primeira aula de bateria.
Mas já toquei muitos gêneros diferentes. No funk, por exemplo, tive influência de Bernard Purdie e Billy Cobham.
Folha - O que acha da música brasileira?
Monk - Eu tenho muito o que aprender com os músicos brasileiros. Os bateristas do Brasil são inacreditáveis. O ritmo é diferente, a música é uma coisa completamente diferente.
Folha - Sobre seu pai, como era a sua relação com ele?
Monk - Minha relação com ele era ótima, pois ele era muito caseiro e gostava muito da família.
Ele fez músicas para mim, para minha irmã, pois era muito chegado em nós. Em termos de música, o que ele realmente me ensinou foi a filosofia. O respeito pela música, a necessidade de cuidar bem dela, de praticar, de aprender, de pesquisar, de tocar muito.
Foi isso o que Thelonious me deixou, saber o porquê da música. Quando se sabe isso, o resto vem naturalmente.
O segredo do jazz está em buscar a sua própria voz. Alguns acham essa voz muito cedo, como Winton Marsalis, outros, como eu, demoram mais.
Folha - Há alguma composição de seu pai que é especial para você?
Monk - Várias. "`Round Midnight" é certamente uma delas. Algumas músicas simplesmente mergulham diretamente dentro das pessoas, e Thelonious tem inúmeras músicas que são assim. Acho justo considerá-lo como um dos maiores compositores do século.
Folha - Você tem composições próprias?
Monk - Sim, embora não esteja compondo no momento. Eu me considero em um processo de aprendizado. Quando eu tiver informação suficiente, voltarei a compor.
Folha - Qual é a sua formação preferida?
Monk - A atual, ou seja, o sexteto. Eu cresci ouvindo James Brown e Sly and the Family Stone, e então me acostumei com os metais.
Gosto de ter três metais, pois isso me permite fazer coisas muito grandes e, ao mesmo tempo, permite tocar coisas menores, mais simples.
Folha - Parece estar havendo hoje em dia uma revalorização do jazz acústico, que é o que sua banda toca. O que acha disso?
Monk - Eu acho que os instrumentos eletrônicos são muito unidimensionais, enquanto em termos de sonoridade os instrumentos acústicos são tridimensionais.
Acho que é uma tendência natural do ouvido das pessoas buscar esse som tridimensional. E também é resultado de mais de 20 anos de uso de eletrônica.
Olhe os garotos, mesmo os rappers estão indo buscar a música acústica para samplear. Não estão mais usando o som funk dos 70, mas o bebop dos anos 50.
Eu acho que o ouvido das pessoas está atrás de algo novo e diferente, e hoje é a música acústica que traz isso.

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