São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Batam que FHC gosta

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Começou a contagem regressiva do Plano Real e o comando da campanha de Fernando Henrique Cardoso aposta que a inflação vai despencar. Por isso torce para que Luiz Inácio Lula da Silva e o PT batam duro no plano econômico. É uma espécie de versão política do "bate em mim que eu gosto". Fácil entender.
O PSDB está elaborando uma série de eventos para grudar a imagem do real a Fernando Henrique. Nas conversas de bastidores, imagina-se que Lula prestaria um serviço caso gritasse contra o plano, ajudando a polarizar a eleição entre quem apóia ou combate o plano.
Os articuladores de FHC sonham em vender o rótulo de que Lula seria o "candidato da inflação" –ou seja, um beneficiário da crise. Controlados os preços, pelo menos no período eleitoral, o PT ficaria sem bandeira e apresentado como "impatriota".
Um sinal dessa estratégia apareceu sábado passado. Em Brasília, ele reclamou dos candidatos que atacavam o plano e, agora, moderaram o discurso. Chegou a classificar essa mudança de "estelionato de idéias". Foi a forma de rebater contra os que o acusam de "estelionato eleitoral".
Orestes Quércia consultou economistas ligados à sua candidatura. Foi informado por vários deles de que, pelo menos nos próximos meses, os preços ficariam estáveis. Mudou o tom. Esse mesmo tipo de diagnóstico é feito por economistas do PT.
Criou-se uma situação difícil para o PT. Se ataca o real, corre o risco de ficar falando sozinho. Mas se elogia, reforça o plano e seu autor. A solução encontrada: dizer que o real é coisa passageira. Apenas um artifício para fazer um candidato virar presidente.
Mas a aposta dos tucanos é de que, além de baixar a inflação, haverá aumento de consumo, atingindo as camadas mais pobres –e, aí, atraindo os eleitores de Lula.
PS – Nas conversas destinadas uma análise fria, personalidades influentes do PT, a começar de Lula, admitem que, devido ao Plano Real, uma vitória no primeiro turno é cada vez mais difícil. Inicialmente, imaginavam que o segundo turno seria disputado com Orestes Quércia. Agora, já se preparam psicologicamente para a alternativa Fernando Henrique Cardoso.

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