São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Regra de controle da moeda deixa dúvidas

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA ; FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os economistas e dirigentes de bancos consultados pela Folha divergem sobre se há ou não efetivo aperto na emissão de reais.
A medida provisória do governo estabelece que R$ 7,5 bilhões serão emitidos até 30 de setembro próximo, mais um R$ 1 bilhão até 31 de dezembro deste ano e outro R$ 1 bilhão até 31 de março do próximo ano.
A medida prevê ainda a possibilidade de emissão extraordinária de até 20% a mais sobre estas metas e, dependendo das circunstâncias, novas metas poderão ser aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Pedro Bodin, ex-diretor de Política Monetária do BC e, atualmente, no banco Icatu, considera as metas de emissão "bastante apertadas".
Na quinta-feira, enquanto o mercado fazia operações prevendo um juro em julho menor do que estimara na véspera, Bodin chegou a dizer que "quem está baixando os juros não leu direto as medidas".
O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Alcides Tápias, e Raul Barreto, vice-presidente do banco Mercantil de São Paulo, observam igualmente que a margem de emissão de moeda é bastante estreita.
É que o limite de R$ 7,5 bilhões abrange a base monetária (dinheiro em poder da população mais as reservas bancárias) mais a parcela recolhida pelo BC na forma de compulsório sobre contas correntes.
Estima-se que esses valores eram da ordem de US$ 3,5 bilhões em 30 de junho último. Se a monetização (dinheiro no bolso mais depósitos à vista) dobrar este volume, 93% da meta fixada até setembro estará comprometida.
Em outras palavras: se o governo cumprir rigorosamente as metas, haverá escassez de real e seu preço (juro) vai subir. O que não se sabe é qual o nível de taxa de juro que será considerado aceitável pelo BC.
Barreto prevê uma "contração monetária expressiva, com impacto direto no custo do dinheiro" por conta das medidas anunciadas na sexta-feira.
Entre elas, ele destaca os aumentos dos recolhimentos compulsórios ao BC sobre depósitos à vista (100% dos acréscimos), a prazo (20% do que os bancos captarem a mais através de CDBs e RDBs) e sobre os saldos de caderneta de poupança (de 15% para 20%).
Todo o dinheiro que é recolhido no BC compulsoriamente representa, na prática, um diminuição do volume disponível para a oferta de crédito ao setor privado (pessoas físicas e empresas).
Eduardo Faria, economista do banco Dibens, considera também que a meta é restritiva, mas pondera que existem incertezas. "Ninguém sabe ao certo qual é o volume de dinheiro necessário para movimentar a economia sem pressões inflacionárias."
Opinião oposta tem o ex-presidente do BC Ibrahim Eris. Para ele, os limites de emissão de reais não são tão restritos quanto se imagina. Eris acredita, como os demais, que, no início do real, o BC vai praticar juros muito elevados e que, com as medidas de sexta-feira, de fato, foi contida a expansão do crédito.
Para ele, entretanto, uma expansão de US$ 3,5 bilhões para US$ 9,5 bilhões até março, com a possibilidade de uma emissão suplementar de 20%, "é mais do que aconteceu no Plano Cruzado".
Em 1986, os depósitos à vista saltaram de 3% do PIB (Produto Interno Bruto, uma medida da riqueza nacional), em janeiro, para quase 9% em dezembro. Mas os juros praticados foram negativos (abaixo da inflação) e, como lembra Faria, o mercado financeiro era muito menos sofisticado. Não existia, por exemplo, toda a indústria dos fundos de investimento.
(JCO e FM)

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