São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Sem função, Mustafá engorda 4 kg na Copa

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A LOS GATOS

É fácil falar com Mustafá Contursi, 53, o chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo. O presidente do Palmeiras é um dos menos procurados quando terminam os treinos da seleção.
Mustafá, como é chamado, quase não é entrevistado porque pouco ou nada tem a dizer. É o chefe da delegação. E só. O cargo é honorífico. Não concentra poder.
Muitas vezes, Mustafá tem menos do que o seu cargo permite. Fica sem saber o que se passa na seleção brasileira de futebol.
Quando o time empatou contra o Canadá, em jogo amistoso 15 dias antes do Mundial, os jogadores e a comissão técnica fizeram uma reunião que ficou conhecida como "lavagem de roupa suja".
No dia seguinte, indagado sobre o encontro, Mustafá disse: "Não houve lavagem de roupa suja nem de roupa limpa. Aliás, só fiquei sabendo da reunião hoje."
Mustafá Contursi Goffar Majzoub é descendente de árabes e italianos. "Meu nome ficou só Mustafá Contursi porque acho que as pessoas tinham dificuldade de pronunciar o nome todo", diz.
Desde que chegou aos Estados Unidos, em 26 de maio, passa fechado no hotel. Sai apenas para ir aos treinos da equipe.
Houve duas exceções. Teve que representar a seleção em solenidades organizadas pelas autoridades locais em Los Gatos e San Francisco. Foi de carro com motorista.
"Estou engordando. Acho que já engordei uns quatro quilinhos. Minha altura é 1m70 e já devo ter passado dos 100 kg", diz.
Seu peso é desigualmente distribuído. A maior parte está na região da cintura, cuja circunferência equivale aproximadamente à de duas pizzas tamanho família.
Com o andar lento e pausado, Mustafá sempre vai a todos todos os treinos. Acomoda-se sob um dos guarda-sóis da Coca-Cola instalados à beira do gramado.
Antes de atingir o seu guarda-sol, pára algumas vezes para se encostar na cerca do gramado. Fala ao seu telefone celular. "A gente alugou aqui por que é preciso. Às vezes, temos que tomar decisões urgentes."
Mustafá não toma decisões. Quem o faz é Américo Faria, o supervisor da delegação e emissário direto de Ricardo Teixeira, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Ultimamente, não tem mais usado terno e gravata nos treinos. "Trouxe quatro conjuntos e um terno", diz. Mas em Los Gatos está "muito calor".

Folha – Como tem sido chefiar a delegação brasileira nesta Copa do Mundo?
Mustafá Contursi – É uma experiência engrandecedora. Uma honra estar aqui com a seleção.
Folha – Mas como é a sua rotina como chefe da delegação?
Mustafá – Tenho uma rotina igual à dos jogadores. Não é muito diferente. Tomo café, almoço e janto com eles. Até as folgas são iguais. Não tem muito segredo no que faço. Teve só duas vezes que fui representar a seleção em cerimônias aqui em Los Gatos e em San Francisco.
Folha – O sr. veio com sua família para os Estados Unidos?
Mustafá – Não. Vim sozinho. Fico no mesmo hotel da seleção. Também estou concentrado.
Folha – Com que frequência o sr. se comunica com a família em São Paulo?
Mustafá – Tenho dois filhos casados e uma filha solteira. Falo com minha senhora ou com os filhos a cada três ou quatro dias. Não dá para ficar ligando muito, a toda hora. A seleção absorve todo o meu tempo.
Folha – Quando representa a seleção em algum evento, o sr. vai dirigindo?
Mustafá – Não, porque não gosto muito de dirigir. Sempre vou com um carro da delegação e motorista.
Folha – O sr. está recebendo para ser o chefe da delegação?
Mustafá – O trabalho não é remunerado. Recebo apenas o hotel, as despesas de alimentação e transporte.
Folha – Mas o sr. não está tendo um prejuízo financeiro por estar aqui?
Mustafá – Não. Eu encaro esse trabalho como uma missão. O Palmeiras está sendo bem administrado no Brasil e agora eu não tenho mais uma empresa.
Folha – Que empresa o sr. teve no passado?
Mustafá – Tinha uma fábrica de confecções. Mas resolvi fechar em 1986, na época do Plano Cruzado. Fiquei agora só administrando minhas economias, algumas propriedades e locações.
Folha – Que atividades o sr. exerce especificamente como chefe da delegação brasileira?
Mustafá – Eu participo de todas as decisões. Sempre estou presente. Mas as questões operacionais todas são executadas pelo Américo Faria, que é o supervisor.
Folha – E o sr. não fica entediado com esse trabalho?
Mustafá – Ah, não. Me lembro quando fui chamado. Recebi um telefonema do Ricardo Teixeira. Ele me pediu para ir ao Rio porque precisava de mim para uma missão. Quando soube o que era, aceitei na hora.
Folha – Nas horas vagas o sr. fez compras?
Mustafá – Comprei uns presentinhos para os amigos...
Folha – Quanto o sr. já gastou até agora?
Mustafá – Gastei pouco. Algumas centenas de dólares. Mas, olha, menos do que 500. Porque esse é o limite para a gente entrar no Brasil, não é?
Folha – O sr. opina sobre o time quando conversa com o técnico Carlos Alberto Parreira?
Mustafá – Eu apenas faço o que é natural fazer: comentar nas horas das refeições. Mas não interfiro em nada.

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