São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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EUA não temem o Brasil, afirma Balboa

MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Marcelo Balboa, 26, virou o general da banda nesta Copa da seleção dos Estados Unidos, adversário do jogo de amanhã do Brasil.
É ele que organiza aos gritos a defesa e, como líbero, inicia as jogadas de contra-ataque –a forma pela qual os EUA marcaram dois dos seus três gols na Copa.
Balboa é a voz dos EUA –uma voz pretensiosa. "Podemos ganhar de qualquer seleção. Vamos jogar de igual para igual com o Brasil", disse em entrevista à Folha.
Ele credita a campanha vitoriosa dos EUA, time que não chegava à segunda fase da Copa desde 1930, à união entre os jogadores.
Os EUA parecem uma seleção à moda antiga na descrição de Balboa. Depois dos jogos ou treinos, os jogadores passeiam juntos, vão ao cinema, jogam videogame.
Balboa disse que foi o técnico Bora Milutinovic que mudou os EUA, considerada uma seleção vira-lata antes da Copa.
"Agora jogamos mais como os latinos", afirma. E, como Milutinovic, tornaram-se obcecados: pensam futebol 24 horas por dia, segundo Balboa.
Recordista em partidas pela seleção dos EUA, com 93 jogos desde 1988, ele tem uma situação peculiar para quem perdeu por centímetros o que seria o gol mais espetacular desta Copa, a bicicleta que deu contra a Colômbia. Nunca jogou num time profissional.
O filho de argentinos que nasceu em Chicago joga na Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia. Na entrevista que se segue, ele diz que isso vai mudar depois da Copa: "Posso jogar em qualquer time do mundo".

Folha - Você está na seleção dos EUA desde 1988. O que mudou desde aquela época para que vocês chegassem à segunda fase da Copa 94?
Balboa - Estamos trabalhando muito para deixar o grupo unido. Fazemos muitas coisas juntos depois das partidas, dos treinos.
Folha - O que vocês fazem?
Balboa - Passeamos, vamos ao cinema, jogamos videogame. Isso faz muito bem porque precisamos de uma equipe unida.
Folha - Quem é o principal responsável pela união e pelas mudanças táticas no time?
Balboa - Acho que é o nosso técnico. O técnico anterior, Bob Gansler, era muito bom, mas queria jogar como os europeus.
Agora jogamos mais como os latinos: ficamos muito tempo com o domínio da bola, fazemos jogadas rápidas. Bora mudou a seleção dos Estados Unidos.
Folha - Como trabalha Milutinovic? Há pessoas que dizem que ele dá mais ênfase ao aspecto psicológico do que ao tático.
Balboa - Ele faz as duas coisas. Trabalha com a mente dos jogadores e planeja o time taticamente. É um técnico que quer tirar o máximo do nosso futebol, quer nos ensinar uma série de coisas.
Ele quer que a gente pense futebol como ele pensa: todas as horas, todos os dias. Isso está mudando a mentalidade de muitos jogadores. Antes não pensávamos futebol 24 horas por dia e agora estamos pensando.
Folha - Milutinovic é obsessivo desse jeito?
Balboa - Falamos de futebol o tempo todo. Discutimos o futebol da Europa, da América do Sul, de todo o mundo.
Folha - Como vocês planejam jogar contra o Brasil?
Balboa - Ah! Ah! Ah! (rindo) Essa é um pergunta que só Bora saberia responder. Ele ainda não falou nada sobre como vamos jogar, que time começa jogando.
Folha - Falando sinceramente: você acha que os EUA podem vencer o Brasil?
Balboa - Em qualquer dia nós podemos ganhar de qualquer seleção. Ninguém imaginava que íamos ganhar da Colômbia e ganhamos. Temos um time muito bom e vamos jogar de igual para igual com o Brasil.
Folha - Qual é o maior medo dos jogadores dos EUA ao enfrentar o Brasil?
Balboa - Sabemos que o nosso time é bom nas jogadas aéreas, que temos muita velocidade no ataque, mas temos que parar Romário, Bebeto, Raí.
Têm tantas coisas em que o Brasil é forte. Mas, se conseguirmos pará-las, temos chances.
Folha - Foi Milutinovic que o transformou em líder do time?
Balboa - Foi. Sou o líbero, já joguei num Mundial, tenho experiência e tenho que mandar no time, gritar: "Olha! Tem um homem livre ali!"
Isso não estava nos meus planos antes porque tive uma lesão no joelho no último ano, fiquei sete meses e meio sem jogar.
Mas quando o Mundial começou, senti que a equipe precisava de alguém que gritasse no campo.
Folha - Qual o principal problema da seleção brasileira?
Balboa - Acho que é a ligação entre o meio de campo e o ataque. O ruim para nós é que, mesmo com esse problema, Bebeto e Romário têm muita força e vamos ter que pará-los.
Folha - O fato de o jogo ser no dia da Independência dos EUA motiva mais o time?
Balboa - Sempre há muito entusiasmo com o 4 de Julho, mas é uma partida contra a melhor equipe do mundo e temos que pensar nisso primeiro.
Folha - Não é frustrante ser o líder de uma seleção e nunca ter jogado num time profissional?
Balboa - Não tenho frustração. Depois deste Mundial alguém vai me dar uma chance. Sei que posso jogar em qualquer time do mundo.

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