São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Nem sempre trampolim

Dona do terceiro maior orçamento da República, depois da União e do Estado de São Paulo, a prefeitura paulistana é tida como um sedutor trampolim para vôos político-eleitorais mais elevados.
A história demonstra, de resto, que prefeitos de São Paulo tornam-se invariavelmente "presidenciáveis" em potencial.
Mas essa história tem uma contrapartida: cidade problemática por natureza, dadas as suas gigantescas dimensões, São Paulo pode devorar com muita rapidez o prestígio de seus governantes.
É o que está ocorrendo com Paulo Salim Maluf (PPR). Em apenas um ano e meio de gestão, ele viu quase triplicar o número dos paulistanos que consideram ruim ou péssima a sua administração. Começou com 13% de expectativas negativas e o mais recente levantamento do Datafolha, publicado sexta-feira, mostra que já são 36% os que acham ruim ou péssima a sua gestão à frente da prefeitura.
O pior, para os paulistanos, é que esse resultado, ao invés de servir de alerta para que o prefeito corrija deficiências, é negligenciado pelo governante. "Hoje, não tem buracos nas ruas de São Paulo, os jardins estão floridos, o lixo está sendo coletado, as obras foram todas terminadas", foi a reação de Maluf ao resultado da pesquisa.
O cenário cor-de-rosa por ele descrito não combina, é óbvio, com a visão da maioria (74%), que julga a sua gestão ou meramente regular (38%) ou ruim/péssima (36%).
Mas, ao mergulhar também na avaliação dos prefeitos de outras dez grandes capitais, a pesquisa permite conclusões até certo ponto otimistas. A imensidão dos problemas não chega a ser um empecilho para que alguns prefeitos consigam um resultado expressivo.
O caso de Jarbas Vasconcelos (Recife, sem partido) é, talvez, o mais eloquente. Sua cidade aparece nas estatísticas oficiais como a de maior número de pobres e de mais alto índice de desemprego, fatores que tenderiam a influir negativamente no julgamento do prefeito, mesmo sabendo-se que são problemas estranhos à sua alçada direta.
Não obstante, Vasconcelos obtem 67% de ótimo e bom. Dois outros prefeitos –Tarso Genro (Porto Alegre, PT) e Antonio Cambraia (Fortaleza, PMDB)– também conseguem porcentagens de ótimo e bom acima da maioria absoluta. Ou seja, ao contrário da sensação amplamente difundida segundo a qual político algum presta, o Datafolha comprova que há alguns políticos que, aos olhos de seu público, são bons administradores.

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