São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Estupidez tem limites

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Está previsto para ser anunciado amanhã um plano de R$ 160 milhões, atigindo 5 milhões de crianças, envolvendo aproximadamente 1 milhão de famílias . Se não forem tomadas cautelas contra manipulação eleitoral, estaremos diante de um dos grandes crimes da história do Brasil. Por isso, as Forças Armadas devem participar.
Vamos reconhecer: o presidente Itamar Franco demonstrou rapidez e sensibilidade depois de informado sobre o aumento da mortalidade infantil, principalmente no interior no Nordeste. Pelos relatos da Igreja Católica, confirmados pelo Ministério da Saúde, crianças estão morrendo literalmente como moscas.
O ministro Beni Veras, do Planejamento, conseguiu alocar R$ 160 milhões, além de se disporem de 400 mil toneladas de grãos. As escolas e creches passam a ficar abertas nos fins-de-semana, distribuindo alimentos.
Não estou acusando o plano contra imortalidade infantil de eleitoreiro. Ele deve ser mesmo feito. Aliás, o dinheiro é pouco. O receio é de que, num ano eleitoral, veja-se no faminto não um ser fragilizado, mas um voto. Todos sabem que a manipulação de verbas assistenciais faz parte da cultura política do Brasil e, em particular, no Nordeste.
Os números são gigantescos: ao chegar a 5 milhões de crianças, são atingidas 1 milhão de famílias. É um programa capaz de se espalhar positivamente por milhões de eleitores, agradecidos pela comida.
Pelos bastidores, o PT se mostra preocupado com eventuais influências eleitorais do PSDB. E, ao mesmo tempo, os tucanos temem que o PT e seus simpatizantes no Conselho de Segurança Alimentar (Consea) tentem "faturar".
O problema é se, devido a essas "nobres" disputas, a distribuição não seja tão ágil e urgente como o caso exige –ou, pior, ocorram desperdícios.
A estupidez tem limites –ou, pelo menos, deveria ter.

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