São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Odebrecht; Mesmo assunto e nome; Escrete caranguejo; Troféu da vergonha; Aborto; Rádio livre apreendida; Café escandaloso

Odebrecht
"A Folha publicou no dia 26 de junho último um trecho de uma entrevista por mim concedida ao jornalista Eduardo Belo. O trecho publicado ocupou, na verdade, cerca de cinco minutos de uma conversa que durou mais de uma hora, durante a qual tive a oportunidade de expor, em detalhes, nossa tecnologia empresarial baseada na delegação de poderes e na repartição dos resultados com nossos empresários-parceiros e no reinvestimento continuado dos lucros em novos negócios que assegurem a diversificação do risco, o crescimento e a perpetuidade da empresa. Infelizmente, a entrevista foi dividida em duas partes e publicada em dias diferentes: a primeira, que se referia às práticas de qualidade e produtividade da nossa organização voltadas para a geração de renda e de empregos ao longo de 75 anos, foi publicada no dia 19 de junho último; e a segunda parte, que se referiu às mazelas ainda presentes na estrutura jurídico-institucional do Estado brasileiro –causa real das graves distorções no relacionamento entre estruturas governamentais e empresas privadas, foi publicada no dia 26. O texto e o título da chamada primeira página, assim como o título e o subtítulo da referida matéria do dia 26/06 resultam de uma técnica jornalística segundo a qual o redator elege aquilo que ele julga a 'melhor' síntese das expressões do entrevistado, abstraindo, em decorrência, todas as justificativas, ressalvas e condicionamentos do pensamento exposto, o que, em termos semânticos, corresponde a retirar-lhe o contexto. O contexto é, nesse caso, sobremaneira importante, para fazer justiça ao raciocínio por mim desenvolvido. Quis dizer que as empresas em geral, sobretudo as que se relacionam com a máquina governamental na condição de prestadores de serviço, vivem situações que lhe são impostas, seja por uma legislação que não restabelece a necessária proteção aos prestadores de serviços ao governo, seja porque essas empresas sacrificam-se permanentemente para suprir deficiências de caixa, a juros escorchantes, por causa dos costumeiros atrasos de pagamentos dos seus contratos por parte do setor público. O que deveria, pois, ser o principal e a causa das questões levantada pelo jornalista, passou à condição de secundário (quase inexistente) no conjunto do texto publicado. Não afirmo isso com o intuito de acusar o profissional de parcialidade, mas para destacar que é sempre muito mais fácil abordar superficialmente os efeitos, deixando de lado as causas. A hipocrisia não é uma componente do meu perfil moral. Mas renego a palavra propina (e as conotações a ela atribuídas em português do Brasil), que não foi por mim pronunciada durante a entrevista, nem consta do texto publicado (mas, ainda assim, utilizada nos títulos da primeira página e da página 13 na edição do dia 26/06). Desejo esclarecer que o sentido das minhas palavras é que existe corrupção na máquina governamental e que eu luto para combatê-la. Como é do conhecimento público, no plano institucional a Odebrecht está engajada, juntamente com outras empresas, no esforço para introduzir na lei de licitações recentemente sancionada pelo Poder Executivo novas medidas moralizadoras que impliquem a garantia (através de seguro obrigatório) do cumprimento dos contratos, paralelamente à garantia de pagamento dos serviços prestados nos prazos contratados. A Odebrecht sente-se vítima de uma campanha insidiosa que tem a pretensão de expô-la aos olhos do público como interessada na persistência da corrupção, o que, aqui, mais uma vez, refutamos."
Emilio Odebrecht, diretor-presidente da Odebrecht S.A. (Rio de Janeiro, RJ)

Mesmo assunto e nome
"Escrevo ao Painel do Leitor para, infelizmente, tratar do mesmo assunto. Dizer que nada tenho a ver com o José Maria de Aquino que, quase semanalmente, tem suas idéias publicadas por esta coluna. Trata-se de meu homônimo, e gostaria muito que o Painel do Leitor me desse algumas linhas para deixar bem claro que não somos a mesma pessoa. Peço mais uma coisinha: que a coluna passe a identificar com mais detalhes as pessoas que têm suas cartas publicadas. Evitaria muitos dissabores. Eu, por exemplo, sou José Maria de Aquino, jornalista, RG 1.831.363."
José Maria de Aquino (São Paulo, SP)

Escrete caranguejo
"Saída para o escrete brasileiro que a partir de um toque de Romário passa a bola para Raí, que por sua vez passa para Dunga, que faz chegar até Márcio Santos que, por fim, atrasa para Taffarel. Este tem sido, infelizmente, o futebol brasileiro. Um futebol caranguejo onde nossa principal característica, ou seja, a arte, foi colocada para escanteio. Estamos desenvolvendo um futebol burocrático, um futebol carimbador de bola. Espero que em 4 de julho o senhor Parreira transforme nossa seleção em um Patriot e destrua o selecionado americano na passagem de sua data nacional. Avante escrete brasileiro. Avante Romário."
José Fortunati, líder do PT na Câmara dos Deputados (Brasília, DF)

"A culpa não é só do Parreira. É preciso esclarecer, antes que o Brasil ganhe ou perca essa Copa, que essa é a pior seleção que o Brasil já formou em todos os tempos, sobre todos os aspectos. A culpa não é só do Parreira, é dos nossos dirigentes esportivos que elegeram para dirigente da CBF um homem cujo único predicado apresentado para dirigi-la é ser 'genro'."
Guaracimir Jorge Nascimento (Guaratinguetá, SP)

"Concordo com a opinião de Johan Cruyff na Folha de 30/06, onde ele defende a entrada de Muller como titular da seleção brasileira. Ou Parreira muda a seleção ou a seleção se muda de São Francisco para o Brasil."
Renato Leite Júnior (Ilhéus, BA)

Troféu da vergonha
"O Brasil está em 3º lugar no pódio da matança de juízes e advogados, registrando no ano passado 25 casos de ameaças, totalizando três mortes. É um troféu que nos envergonha, pois além da Justiça ser cega, aos poucos ela vai sendo intimidada por essa barbárie."
Alex O. R. de Lima (São Paulo, SP)

Aborto
"Sinto informar que me causou profunda decepção o artigo 'Aborto, eutanásia e tabaco' (de Hélio Schwartsman, 23/06). Eis que inexiste ética no assassinato de crianças indefesas, doentes ou sadias; nosso Código Penal considera crime o abortamento que, somente em circunstâncias específicas, pode deixar de ser punido."
Helio Giron (São Paulo, SP)

Rádio livre apreendida
"A Associação das Rádios Livres do Estado de São Paulo vem por meio desta protestar contra a apreensão da Rádio Livre Comunidade Friburgo FM de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, cujos equipamentos foram confiscados ilegalmente pelo Dentel e Polícia Federal, no dia 16/06. A RCF vinha funcionando três horas por dia em um espaço cedido pelo Sindicato Municipal dos Têxteis. Foi fundada pela Prea –Programa Rural de Educação Ambiental, sediado naquela cidade. Participavam de sua programação, em debates e entrevistas, a igreja ecologista, delegados de Polícia Civil, educadores, sindicalistas, autoridades municipais e esotéricos."
Valionel Tomaz Figatti, presidente da Associação das Rádios Livres do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Café escandaloso
"A tradicional Sociedade Rural Brasileira está certa. O subsídio à custa do produtor do café não vai para o consumidor. Vai ampliar os escândalos do café com a conivência de pelegos e do Ministério da Indústria e do Comércio que continua com esses 'leilões'."
Anibal da Silva Filho (Itapui, SP)

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