São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Figurantes de TV conquistam direitos e deveres com regulamentação da profissão

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

Cerca de 3 mil pessoas ganham a vida no Rio como figurantes de programas de TV. Agora, com a assinatura do acordo coletivo de trabalho da categoria, eles começam a conhecer seus direitos e deveres.
Desde 1978, quando a profissão de ator foi regulamentada, os figurantes passaram a existir de fato. Mas não tinham hora para trabalhar, dia para receber nem piso salarial definido.
Proibidos de falar em cena, eles reclamaram tanto fora do ar que o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Diversões do Rio encampou a causa e foi à Delegacia Regional do Trabalho lutar pelos "patinhos feios" da classe artística.
Deu resultado. Desde março, as 12 agências de modelos e figurantes que atuam no Rio elaboram com sindicalistas as regras para a profissão, na prática tão antiga quanto a própria TV.
No início, qualquer um que passasse por perto de uma gravação corria o risco de ser cooptado para fazer número. A exigência era apenas uma: jamais olhar para a câmera.
Hoje, os figurantes televisivos começam a ganhar respeito. Terão jornada diária de oito horas, piso salarial de R$ 12,68 por dia, adicional noturno, hora extra e dia certo para receber.
"Mas eles também vão ter deveres, como, por exemplo, chegar na hora marcada, o que raramente acontecia", diz Beth Pinho, vice-presidente do Sindicato dos Artistas do Rio.
Mariza Sarno, dona da Ceumar, agência que está estendendo sua atuação a São Paulo desde o início de "Éramos Seis", diz que os figurantes precisam se conscientizar de suas obrigações.
"Geralmente temos que chamar um número maior do que o solicitado, pois é grande o número de faltas", diz ela. A ex-atriz Rosana Ghessa, dona da agência Verona, endossa a queixa. Desde 83, ela já cadastrou mais de 5 mil pessoas.
O quartel-general dos figurantes da Globo é no meio da rua, em frente à emissora, no Jardim Botânico (zona sul do Rio). Ali, legiões dos mais variados tipos se reúnem antes das gravações.
Depois de uma espera geralmente longa, embarcam de ônibus para as locações das novelas ou para os auditórios onde vão fazer número durante intermináveis horas de trabalho.
"Comecei para fazer amigos e conhecer gente, mas agora já quero seguir carreira", diz Andréa Alves, 22, que há um ano enfrenta uma hora de ônibus do Meier (zona norte), onde mora, até a sede da emissora.
Ao lado das amigas Michele Martins, 15, e Patrícia Bagno da Silva, 17, Andréa trabalhou sentada na mesa de um restaurante onde alguns protagonistas de "A Viagem" gravaram uma cena da novela.
"Em casa, a gente idolatra os artistas, mas chegando aqui vê que eles são pessoas comuns", constata Andréa, estudante de Serviço Social.
As três foram chamadas após se cadastrarem na agência 4 A, uma das que fornece pessoal para programas da Globo e da Manchete –as emissoras sediadas no Rio. Por serem modelos, têm direito a um piso maior: R$ 36,79.
As agências cobram percentuais de 20% a 50% sobre os cachês pagos aos figurantes. Algumas são especializadas. A Afro-Brasil, por exemplo, tem uma extensa relação de atores negros e fatura alto nas novelas e minisséries ambientadas na época da escravidão.

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