São Paulo, terça-feira, 5 de julho de 1994
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Lula e FHC preparam 'guerra de índices'

JOSIAS DE SOUZA E GILBERTO DIMENSTEIN

PT espera divulgação das taxas de inflação para dizer que Real trouxe perdas salariais; PSDB prepara reação
JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
GILBERTO DIMENSTEIN
Diretor da Sucursal de Brasília
O PSDB se prepara para travar com o PT uma guerra em torno dos salários. Fernando Henrique Cardoso prevê que Luiz Inácio Lula da Silva passará a martelar a tese de que o Plano Real provocou perdas salariais. E prepara a reação.
Haverá nas próximas semanas uma batalha em torno dos índices. O PT aguarda a divulgação das taxas de inflação (Fipe, IGP e IBGE), para iniciar sua pregação.
O cálculo desses índices vai incorporar os aumentos de preços praticados na virada da troca da moeda. Estima-se que as taxas ficarão em torno 20% e 25% neste mês de julho.
Como a inflação oficial calculada pelo governo não deve passar de 5%, Fernando Henrique imagina que o PT irá explorar o fato, disseminando a tese de que a troca da moeda trouxe prejuízo para os salários.
Para tentar neutralizar a estratégia petista, a assessoria do candidato do PSDB prepara uma campanha de divulgação do novo índice oficial do governo, o chamado IPCR (Índice de Preços ao Consumidor do Real).
Planeja-se inclusive a veiculação do novo índice nos programas eleitorais do candidato no horário eleitoral de rádio e televisão.
Nas reuniões em que se discute a montagem da estratégia de campanha, os assessores de Fernando Henrique Cardoso consideram vitais para o futuro do candidato as primeiras semanas após o lançamento do real.
Fernando Henrique desenvolve um grande esforço para associar a sua imagem à do real. Daí a preocupação de sua assessoria. Se a pregação das perdas salariais vingar, o candidato pode sofrer prejuízos eleitorais.
O PSDB tem uma segunda preocupação: na comparação com a URV, que corrigia os salários no instante em que eram recebidos, o real pode assustar as pessoas.
A partir do lançamento da nova moeda, os reajustes de salário serão anuais. Para os eleitores mais humildes, não importa que a economia esteja ou não estabilizada. Sempre restará a impressão de que se está protelando reajustes.
O discurso de campanha de Fernando Henrique deve incorporar também nos próximos dias duros ataques ao empresariado. O PSDB não quer deixar para o PT a bandeira do combate à carestia.
Na opinião de Fernando Henrique, quanto mais o debate eleitoral estiver girando em torno do Plano Real, melhor para sua candidatura, antes sem bandeiras.
Fernando Henrique planeja dizer aos eleitores, no horário eleitoral, a partir de 2 de agosto, que o real é um plano inacabado.
Afirmará que, para dar certo de fato, o plano depende de um governo que dê continuidade às reformas econômicas.

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