São Paulo, terça-feira, 5 de julho de 1994
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Médica é punida por tirar virgindade

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

A ginecologista Maria Aló Filgueiras foi condenada na última sexta-feira a indenizar Cacilda Pereira Barbosa Filha, 29, a quem teria desvirginado durante uma consulta médica em dezembro de 89.
A sentença, da 17ª Vara Cível do Rio, obriga a ginecologista a pagar indenização de cem salários mínimos. Ela deverá recorrer em segunda instância.
Cacilda disse que tinha 24 anos quando se consultou pela primeira vez com a médica, a quem procurou por indicação de uma amiga, para tratar um corrimento vaginal.
"Na primeira consulta ela perguntou minha idade e se espantou quando eu disse que era virgem aos 24 anos", contou ontem Cacilda. O erro médico teria ocorrido na segunda consulta, realizada 26 dias depois.
Cacilda afirmou que a médica não olhou sua ficha antes de iniciar a segunda consulta e utilizou um espéculo grande (tipo "bico de pato"), "instrumento médico impróprio para a vagina de uma virgem", segundo a advogada de Cacilda, Célia Destri.
"Comecei a gritar de dor e até a secretária do consultório veio ver o que estava acontecendo. Saí de lá sem sentir meu corpo da cintura para baixo", afirmou Cacilda.
Machucada, ela procurou a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, na época sediada no centro do Rio. "Elas riram de mim e mandaram eu ir na delegacia de Copacabana (zona sul)", disse.
O laudo pericial constatou "quadro compatível com a história relatada", diz a advogada Célia Destri, fundadora da Associação das Vítimas de Erros Médicos, com sede no Rio.
Segundo Célia, o laudo do IML "atesta que a ruptura do hímen foi provocada por objeto pontiagudo, que é diferente de um pênis".
Cacilda queixou-se também no Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro), onde foi aberto um processo para apurar as responsabilidades da ginecologista.
Na Justiça, além da indenização por danos morais, Cacilda pede juros retroativos à data da segunda consulta e ressarcimento por danos materiais.

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