São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994
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Fotógrafo critica trabalhos de moda

GUTO BARRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NY

Richard Avedon critica a atual fotografia de moda, nos trechos a seguir. Mas apesar de dizer que não acompanha mais esse meio, afirma gostar da "candura" da tendência realista representada por nomes como Corinne Day e Juergen Teller.

*Folha - O que o sr. acha que está acontecendo na fotografia de moda no momento?
Richard Avedon - Eu não sei, eu não presto mais atenção a isso.
Folha - O que o sr. acha dessa onda de fotografia naturalista na mundo da moda?
Avedon - Não é o jeito que eu gosto de trabalhar. Mas acho que algumas delas são muito boas e trazem realmente novidades. Não sei quanto tempo essa onda vai durar, pois essas coisas vêm e vão. Mas eu gosto do fato de serem fotografias cândidas, muito livres e soltas, bem ao contrário de fotografias posadas. É interessante, mas poucos fotógrafos parecem estar achando uma identidade de imagem que não vai mais ser esquecida. Acho que hoje a maioria deles está um pouco perdida.
Folha - Qual foi a maior influência que o sr. acha que deu para a fotografia de retrato?
Avedon - É difícil responder. Acho que, provavelmente, talvez uma nova definição de enobrecimento (enoblement). Em outras outras palavras, eu me livrei de todos os aparatos de composição de iluminação, que fazem as pessoas parecerem importantes e maravilhosas para revelar um determinado aspecto da pessoa, um momento da pessoa, que não depende exatamente de glamour.
Se eu quisesse fazer fotografias glamourosas, seria uma outra coisa. Se eu estivesse fazendo uma capa para a "Vogue", ou uma campanha para a Revlon, seria assim. Quando estou fazendo um portrait (retrato), acho até ofensivo usar uma iluminação sofisticada e abusar nos retoques. Eu acho que a própria pessoa pode expressar sua beleza. Se a pessoa está com a barba por fazer ou tem pequenas pintas na cara, eu não quero tentar esconder isso, nem tentar fazê-lo ficar mais atraente.
Folha - O que o sr. acha do fato da sua técnica de iluminação ter influenciado tantos fotógrafos, atualmente?
Avedon - Eu me sinto muito agradecido e emocionado, mas acho que é perigoso para eles. Qualquer um que copia outra pessoa, se enfraquece ao fazer isso. Em vez de ser um trabalho que cresce e fica mais forte, eles acabam fazendo um trabalho fraco.
Folha - Qual foi a idéia básica para a montagem dessa exposição do Whitney?
Avedon - As curadoras da exposição, Jane Livingston e Mary Shanahan têm uma ótima concepção visual. Junto com eles, eu tive a idéia de fazer uma exposição toda misturada, onde você se perde em meio às fotografias. Na maioria dos lugares elas não estão dispostas por fases ou temas. Eu quis manter a exposição toda em um único andar, que é para que a pessoa vá andando e, sem perceber, acabe onde começou.
Jane queria que o fio condutor da mostra fosse a foto-reportagem, que é um dos meus aspectos menos conhecidos. Algumas dessas fotos nunca foram publicadas na América, como as fotos de NY da minha primeira fase. Queríamos que cada sala fosse como uma nova experiência, mudando as formas de pendurar e iluminar as fotos, como atos de uma peça de teatro. Como sempre trabalhei com revistas e livros, eu penso assim automaticamente; o trabalho vai crescendo até chegar a um clímax.
Folha - Quais são os assuntos que o sr. acha que faltam ser fotografados?
Avedon - Eu não imagino que já fotografei tudo, mas se eu soubesse o que ainda falta, eu não estaria procurando.

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