São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994 |
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A fazenda de Itamar
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO – O presidente Itamar Franco conseguiu encabular a equipe econômica, em reunião de avaliação do real na quarta-feira.Itamar abriu a reunião com uma pergunta de fato pertinente: "Como é que os senhores chegaram à conclusão de que os juros no lançamento do real deveriam ser de 8,31%?". Tal precisão, inclusive nas casas após a vírgula, é difícil de explicar. O pessoal da equipe ensaiou algumas respostas, entre elas a de que os juros altos eram necessários, no início da nova moeda, para evitar que se desviasse o dinheiro da poupança para, por exemplo, comprar fazendas. A conversa rodou e, à certa altura, a equipe econômica garantiu a Itamar que, em agosto, os juros terão caído a 4%, mais ou menos a metade do patamar de abertura do real. Comentário de um dos presentes: "Ué, em agosto vai ser proibido comprar fazendas?". Esse tipo de discussão interna é revelador das preocupações no governo e, também, das divergências de enfoque entre o grupo que cerca o presidente e pelo menos parte da equipe econômica. Divergências que, como é óbvio, terminam com a palavra do chefe, que determinou: "Eu espero que, em setembro, o mais tardar, os juros estejam baixos". Os juros não são o único motivo de divergência. O outro ponto crítico são os preços. No Palácio do Planalto, não se comemora a queda que ocorreu esta semana no custo da cesta básica. Motivo: a alta havida ao longo do mês anterior foi muito superior à queda dos primeiros dias de julho. De fato, até anteontem, a cesta básica ainda custava uns 9% mais do que em idêntico período do mês passado. Consequência: pressão do Planalto sobre a equipe econômica para que sejam tomadas medidas drásticas. A prisão de algum empresário, a título de exemplo, não chegaria exatamente a irritar Itamar Franco. Por enquanto, no entanto, a arma contra os preços é indireta: a ameaça de soltar os fiscais da Receita em cima de determinadas empresas. Como se vê, estabilização pode não significar ausência de emoções fortes. Texto Anterior: Caldeirão urbano Próximo Texto: Por que Lula merece elogios Índice |
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