São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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UM PASSO GIGANTE PARA O HOMEM

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O desembarque americano na Lua tem conotações diversas em seus diferentes aniversários, suas "efemérides".
Quando, em 20 de julho de 1979, foram comemorados os 10 anos da conquista americana, a Guerra Fria que foi a sua causa ainda acontecia.
Mais 10 anos e o feito perdia parte do charme, mas já se podia antever algo que hoje é história: os rivais soviéticos foram derrotados, o comunismo acabou.
Os que quase venceram a corrida para a Lua não estão no páreo para a próxima etapa, pousar em Marte. Nem se fala muito mais nessa missão. Pousar em Marte não tem mais graça.
Relembrar os 25 anos do pouso do primeiro homem na Lua é lembrar uma conquista política em primeiro lugar, tecnológica em segundo e, vá lá, científica em terceiro.
A ciência foi sempre a justificativa, mas também sempre a pior contemplada, das viagens tripuladas que os americanos fizeram até a Lua de 1969 a 1972.
Relembrando: apenas na última missão, da nave Apollo 17, um cientista –um geólogo– pôde pisar no satélite natural da Terra. Antes, a maioria dos privilegiados era militar. Afinal, as missões eram parte da "guerra" dita fria.
Prova das poucas conquistas científicas é o fato de que até hoje não se sabe a origem da Lua. As viagens não ajudaram a responder isso, e os sinais de rádio dos instrumentos deixados lá não são captados desde 1977 por "economia" de alguns milhões de dólares, depois de um projeto de bilhões.
Com o fim da superpotência derrotada, a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, foi possível descobrir detalhes da corrida do lado dos perdedores.
A conclusão não é muito elogiosa ao Ocidente democrático e cristão. Não foram as virtudes da democracia americana, ou os vícios da ditadura soviética, que determinaram os rumos da corrida à Lua. Foi apenas sorte.
A sorte americana começou com o rapto do cientista nazista mais adequado em 1945. O alemão Wernher Von Braun foi o cérebro do programa lunar dos EUA.
Von Braun previu corretamente que, apesar de os soviéticos terem liderado a conquista do espaço com o primeiro satélite (Sputnik 1, em 1957) e com o primeiro homem em órbita (Iuri Gagárin, em 1961), para chegar à Lua as chances eram iguais.
Os soviéticos também empregaram alguns criminosos de guerra alemães, mas a sua contrapartida mais importante a Von Braun era de origem local: Sergei Korolev.
Infelizmente para a URSS, ele morreu em 1966. Pior ainda: Korolev brigou com o maior fabricante de motores de foguete do país, Valentin Glushko. Era uma briga compreensível, já que Glushko tinha ajudado Korolev a conseguir estadia num campo de trabalhos forçados antes da Segunda Guerra.
Essa pode ter sido a causa da vantagem dos EUA. Os americanos souberam administrar democraticamente as brigas inerentes em um projeto de US$ 24 bilhões que envolveu mais de cem universidades e milhares de indústrias.
Os soviéticos se perderam em querelas intestinas. Seu foguete lunar explodiu mais do que devia em uma situação dessas. O programa espacial americano começou com uma epidemia de explosões de foguetes, mas teve forças para persistir. O soviético estacou.
Foi sem dúvida um projeto fascinante, equivalente às arriscadas navegações portuguesas que descobriram o mundo nos séculos 15 e 16. Astronautas americanos e cosmonautas soviéticos morreram na busca do pouso lunar.
Mas se o homem quiser sair da Terra (o seu "berço", como disse o russo Konstantin Tsiolkovsky), missões como a Apollo terão de voltar a acontecer. Resta saber qual será o motivo de ordem política que fará seres humanos desejarem pousar em outros planetas.

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