São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Como cortar uma perna do PT

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O PT cresceu sustentado em duas pernas -moralidade e defesa dos "excluídos", gerenciadas pela aguda inteligência, intuição e senso de oportunidade de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o próprio Lula está transformando seu partido num saci-pererê, cortando-lhe uma das pernas.
Uma frase de Lula publicada ontem é especialmente reveladora ao comentar os generosos empréstimos obtidos por José Paulo Bisol. Disse que estava satisfeito com as explicações do senador, que, ao defender-se, argumentou: naquela época (início da década de 80), não se via nada de mais nesse tipo de operação.
Primeiro: não é correto. Tanto que um juiz tentou bloquear a mamata, auxiliado pelo advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT. Segundo: nem todos os juízes tomaram o empréstimo favorecido.
Mas o ponto central não está aí. O PT ganhou força e prestígio porque, entre outras coisas, denunciou (e com muita razão) esses negócios que infestaram e empobreceram o país. Por isso, a defesa dos excluídos se casava com a defesa da moralidade. Reconheçamos: o país deve a Lula e ao PT por terem colocado com tanta agressividade e competência o casamento entre exclusão social e corrupção no topo da agenda política. Ao decepar uma perna, eles ficam sem equilíbrio e viram armadilha do padrão de moralidade que ajudaram a estabelecer.
Eles reclamam que o caso Bisol vem sendo explorado nas eleições. É óbvio que é e vai ser explorado. Pergunta: os empréstimos existiram ou não? Então, não foi uma invenção dos inimigos nem da imprensa. Mas do próprio senador, que, segundo disse ontem, vai entrar com mais de cem ações contra jornais e jornalistas.
O PT está trazendo denúncias contra Guilherme Palmeira, envolvendo-o em supostos acertos clandestinos com empreiteiras. Não é exploração política? Claro que é. Tudo bem: caso fique algo provado, depura-se a vida pública.
Para arrematar, Lula admite que Bisol pode deixar a vice, dependendo das pesquisas de opinião. O problema passa a ser de marketing e não de moralidade.

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